Itinerários
Na ladeira sentiu o sartório, o sartigalho saltitante toma a dianteira, parou para ver o sarsório tão bonito da igreja, sentir-se como um mosaico, formado por fragmentos de experiências, emoções e memórias que, embora distintos, se entrelaçam para compor a singularidade da essência. O sarrido perceptível o impedia de participar de maratonas com acrídios; mesmo assim, procurava algo que o motivasse a seguir em frente. Talvez todo esse sarrancolim constrito de um ambiente degradado, uma arquitetura inventada que ainda inspira, talvez eu seja uma pilastra deste empório, punição por apetecer um outono fora de época. Poderia ter uma poesia minha naquele outdoor, mas a realidade era outra. A poesia era algo que se perdia na pressa cotidiana, diluída no ritmo das buzinas e dos passos apressados. No entanto, essa mesma pressa que esvaziava significados também criava momentos de abertura, brechas onde uma palavra ou verso poderia se infiltrar, plantar uma ideia, uma emoção. Agora é preciso aceitar as consequências, não acreditar mais no lirismo; a humanidade perdeu o rumo depois que a confiança nas verdades absolutas começou a desmoronar. A busca por certezas deu lugar a um labirinto de dúvidas, e as grandes narrativas que outrora orientavam a civilização começaram a se fragmentar, deixando as pessoas à deriva em um oceano de incertezas. O progresso, antes celebrado, começou a ser questionado. A civilização foi tomada por um sentimento de desorientação profunda, onde cada escolha parecia carregar o peso do desconhecido. Perguntavam-se se, em meio a todo esse caos, ainda havia um lugar para a beleza e a verdade, ou se tudo estava destinado a ser apenas uma série de instantes desconexos e efêmeros, onde a esperança e a nostalgia eram os únicos faróis na vastidão de um mundo cada vez mais nebuloso. Não viu o sol se pôr, mas sabia que ele estava lá, oculto por trás das nuvens que cobriam o horizonte, uma presença constante mesmo quando não visível. A sensação de que algo essencial permanecia além da visão direta oferecia um leve conforto: dormir e não sonhar com nada; sonhos estavam proibidos, eram perigosos, os grandes responsáveis por tudo, afinal precisavam encontrar um culpado para toda inquietação predominante. A vida, com suas complexidades, parecia cada vez mais um labirinto sem saída, onde as oportunidades de conexão e descoberta se tornavam raras. As interações, cada vez mais escassas, perdiam seu valor, e cada sorriso trocado na rua, marfileno para marfar arredores, quando tudo é marga e o margalhudo com o olhar perdido no horizonte tentava encontrar um sentido em meio ao ruído da cidade. As vozes que ecoavam ao seu redor pareciam falar de um mundo que já não existia, onde a simplicidade e a beleza se entrelaçavam em cada gesto. Agora, tudo era apressado, superficial; já perdi tantos detalhes que poderiam ter se transformado em histórias. No entanto, apesar de tudo, havia uma teimosia interna, uma resistência quase involuntária que se agarrava a qualquer vestígio de significado, como uma azaléia que insiste em brotar entre as rachaduras do asfalto. Era um impulso irracional, mas necessário, para manter viva a chama da criatividade, ainda que abafada pelo peso da rotina.
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