segunda-feira, 27 de abril de 2009

Espaço Esparso





Quase uma miragem no Espaço

Suas últimas palavras ecoam no silêncio da madrugada
E as estrelas não recitam mais poesias em aramaico
Desde a semana passada
Quando impudico
Na ausência completa de ruídos
Tento ouvir mais você
Para traduzir os hieróglifos
Que as estrelas deixaram entre as nuvens agridoce
E não vai ser mais impossível
Atravessar os obstáculos dessa meada de difícil desenredo
Desse seu dédalo ultra-sensível
Que você me deixou com ciúmes e medo
Da solidão invisível
Que me arremata por bagatelas
Em uma hasta
Me permuta por estrelas
Depois me arrasta
Para fora de sua cela
Me deixa mais perdido ainda
E com dor de canela
Quando brinda por estar na berlinda
Talvez seguindo sem seus ósculos
As sombras dos espíritos aflitos que você amou
Eu encontre você em algum lugar sem ululos
Quando sou
Dias sem crepúsculos
Noites sem estrelas
Separados por essa apatia de abafar por dentro
Os próprios sentimentos e devaneios
Quando me concentro em paralelas
Para ficarmos presos a órbita da Lua com enleios
Quando esquenta por dentro em aquarelas
Acalma com chá de coentro
Antes de tentar comê-las
No alarido de um epicentro
Desprotegidas estrelas
Seriamos então astronautas
Perdidos no Espaço Sideral
Sem metas ou pautas
Sem noção alguma de como voltar para casa habitual
Antes das estrelas e planetas hipotéticos
Invadirem nossa casa pelo telhado crivado
Por cupins impudicos
Assumir indevidamente pelas portas e janelas que por descuidado
Nós esquecemos de fechar
E espalharem nossas poesias abstratas quando aclarado
Não vamos mais estar
Insensivelmente afastados com enfado.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Persistência da Memória - Salvador Dali




Ampulheta

As horas se esvaem
Até o vestido tem rugas
Desbotado o bordado de tartarugas
Estuga a viagem
E ao mesmo tempo
Que sentia um certo receio pelo futuro
Sentia falta do segundo anterior que apuro
Inseguro comtemplo
Os detalhes da paisagem
Tudo nunca seria o mesmo
Amanhã tudo alternado à esmo
Alterno momentos de estiagem
Com instantes de entusiasmo
É hipocondria
Ao trazer à memória
Quase todo o passado em um espasmo
Eu não era o mesmo que ontem
O ano não era igual
Algumas coisas sumiram no quintal
Sem mais nem menos este desdém
Outras desapareceram por algum motivo
Nem tudo fica guardado na lembrança
E o culpado e o tempo que avança
Não descansa no infinitivo
Lúcia ainda lúcida
Não lembra mais do seu nome
Escolheu um codinome
Para sua alma perdida
É quando eu faço alusão aos relógios
Sempre calculando
Sempre multiplicando
Sem elogios
Um segundo atrás do outro
Não se confundem
Nessa lassitude
Que usufruto
Não se enganam com os zeros
Nem quando ficamos dizendo
Ao seu lado adendo
Diferentes números
Tudo passa
Algumas coisas passam rápido demais
O paquete não para mais no cais
Tudo assa
Outras ficam por fazer
Poesias pela metade
Empresta está sua complexidade?
Resta vir a ser
As árvores demoram para crescer
Algumas nem chegam a dar frutos em nossa época
Não importa a boca
Alguém os comerá com prazer
Alguém irá lembrar de mim
Sempre haverá histórias
Alegrias vazias
Sempre restará um pouco de gim
De bebida nas garrafas
De cinzas no meu esquife
Nos cinzeiros e nos recifes
Escolho esse escolho que me abafa
Quando não está mais na moda
Sentir está dor que acomoda
E safa.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Descrição de Imagem 3



Súbita Subida
Mera meralgia
Mesmo dolicópode
Degringolei do último degrau
Chispas dos chispes
Derradeiro mas derrogador
A degola da derme
O nada me atrai
Seu descaso é outro caso
Há derrisão do nocivo
Normal na próxima curva
Ao norte
Um nódulo górdio
Enrolam-se os fatos
Esféricas miúdas
Como as de Van Gogh
Dobro como um dom
Domável ao dolorífico
Domínio de uma variável
Pode ser um dólmen
O âmbito do ambívio
Deixa tudo ambíguo.

Ednei Pereira Rodrigues

domingo, 5 de abril de 2009

Aniversário Anisotrópico


Dores Acerbas

Talvez já esteja morto
Acepipe para larvas e outros insetos
A gripe que se dissipe entre meus restos
Como consolo
O tempo dissipa as mágoas ávidas
Antecipa a antese de uma tulipa
Raticida como comida
Sem despedidas
Da ferida não brota mais pus
Meu sangue estanca rios
E os vazios
Comi-os na meia-luz
Helminto passeia na minha orelha
Térmites saem do meu nariz
Osga sem diretriz
Pitosga de esguelha
Um panapaná como panaceia
Reside em meu estômago
Abside em meu âmago
Escolopendra participa da ceia
Colmeia cresta no colmo
Cresta a plantação depois da geada
Antes que eu adube minha última morada
Não ouço mais o arrolo
Consternado mais constelado
Consta nas evidências
Que o réu e culpado nas elegias
Idílio idiota ignorado
Sem comoção
Como se fosse condensar os confins
Condenar um confuso colibri
Obrigado pela falta de consideração.


                       Ednei Pereira Rodrigues