terça-feira, 8 de novembro de 2022

Descrição de imagem

                      imagem da poetisa Marianna Perna

 Membranáceo


Nem tudo serve para ser membrana
A folha translada com a aragem
Daí vem a ideia do arame
A sutura

Cílios podem ser substituídos por algo hirsuto
Ambira na testa deixa tudo cálido
Teve queimaduras de 2º grau
Antes de virar borboleta

Concessão para a concha
Usar o olho como pérola
Apropinquar o mar longínquo
Aprontar-se para o dilúvio


Paroxítona veio à tona
Apesar de sua tonalidade ser adequada para o jazz
Respeita a jacente
Já sente o efeito da anestesia

Vislumbrara eflúvios
A incidência da sinestesia
A pétala odorífica
Contra o que tresanda

Confortável metáfora que afaga a nuca
Age como melatonina
Minuta contra o minuto
Não impede a mioclonia

Blandícias da blague
Blackout no âmago
Blastema entre o tema
A blástide do orto

Apoiar-se na aporia
Poria os fatos com pormenores
Piora a lassidão
A frase fica sem sentido

Reduzir a redundância
Até o estro voltar
A estrofe é acolhedora
Espera na alínea.

                        EPR


Quando me deito com a poesia.
E não há mais nome para o abismo que engole luz e sombra. Em um corpo único, arrastada além da dor e da carne. Existe e é real. Um leito de flores e palavras. Um caminho por entre o escuro do tempo, aberto com os dentes, com a força da mandíbula da vida.

                    Marianna Perna


Ela está de pé nas minhas pálpebras
com os dedos nos meus entrelaçados.
Ela cabe toda em minhas mãos,
ela tem a cor dos meus olhos
e desaparece na minha sombra
como uma pedra sobre o céu.
Tem sempre os olhos abertos
e não me deixa dormir.
Os sonhos dela à luz do dia
fazem os sóis evaporar-se,
fazem-me rir, chorar e rir,
falar sem ter nada a dizer.

                       Paul éluard