quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Menear a Menencoria

                           

imagem:mão da poetisa Noi Soul


Cinestesia



Simples aceno
Espero o cumprimento
Muito depende do comprimento da extensão
Seu corpo é comprimido lateralmente no contorno circular
Contorce o Contínuo
Braço lasso
Um higroma no cotovelo
Arpoar com o carpo
Mão láparo
Ás vezes pássaro
Pato apto ao patível
Cairina febrífugo
Podemos interagir por gestos
Menear a Menencoria
Corria se não fosse a inércia
Corria-se risco de introduzir elementos de desordem
Seguir estritamente a coreografia
Quando a metáfora é dedilhável
A unha faz cócegas
Queratinização da querela.

EPR





Manibus

Crio a vida
Manibus
Rogo a Deus
Manibus
Ergo a face
Manibus
Sonhos meus

As linhas que brincam
Nas manus
O sangue que (es)corre
Nas manus
As dores que deitam
Nas manus
O tempo que morre
Nas manus

Ela conduz o meu corpo
Dança o que a alma sente
Ela que esconde o meu rosto
Sorve o mundo inclemente

Manibus
Crio a face
Manibus
Rogo à vida
Manibus
Ergo a Deus
Manibus
Sonhos meus 

Noi Soul 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Metáfora submersa

Para voltar ao princípio do mundo 

sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor
sei que os lavava ao luar

porque tinha no coração uma corola
para voltar ao princípio do mundo

com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento

era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte

um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar

e disse: tece-me

e o mar inclinou-se para dentro
para tecer

o poema.

Maria Azenha



A Forma da água


O Mar que circunda a casa
Oferece aos habitantes o sustento ictío
Pensava que era algum tipo de divindade
Quando faziam a circunflexão
Para retirar parte do seu corpo
Era arrogante é narcisista
Via o reflexo de sua beleza nos olhos de quem se curvava
Só reparou na venustidade da pucela que ali morava
Na hora da ablução
Conheceu assim todas as suas cavidades
A dileção sem dilema
Deixou um pargo dilépido
Toda prosápia da tilápia
Foi assim que a fecundou
Só esperar 9 meses agora para nascer algo hidrópico
Houve uma infestação
Todos que ali moravam pegaram piolhos
A lêndea tinha que entrar para a lenda
Sua egéria com leucemia agora usa peruca.

EPR  

sábado, 14 de agosto de 2021

Ficologia

 



Se não fossem as algas, que saberíamos da alegria?


Faz tempo as algas tinham braços
e refletiam as asas da água em flores marinhas
inebriadas em redor pelo fósforo dos peixes
que direcionavam faróis para as gemas das ilhas,
Faz tempo cruzavam a eternidade
a poesia e a língua dos corais em ritmo e harmonia
e vinham dar à praia na cinza prateada da areia
fundeadas por âncoras e cílios de auroras
Faz tempo os amantes vinham partindo e chegando
em rosas da tarde em dulcíssimos navios na nave do dia
e recolhiam a luz do silêncio imortal entre esta e a outra vida.

Faz tempo os humanos percorriam as pálpebras do céu
entre folhas de sol e abrigos de mel
e eram estrelas
e ampliavam uma nova língua,

Se não fossem as algas, que saberíamos da alegria?

Maria Azenha

Descrição de imagem




Não tive tempo de limpar a janela



Manchas me atraem
O nó da nódoa
Pulvinar para a metáfora descansar
Pensar em algas
Como alternativa pode pulverizar tudo ao redor
Um frenético pulular de novas ideias parece ameaçar, na raiz, a fé e a moral, colocando em dúvida tudo e todos
Ulvina vinha de uma maneira estranha em minha mente
Padina na padieira
Colidiste com algo que vinha no sentido contrário
Tentei evitar qualquer tipo de acidente
Tentei evitar conversar com as paredes
Tentei dizer-te enquanto estavas a largar-me no mar... mas não sabia da história toda
Porém, ainda falta muita coisa para falar sobre as possibilidades de alcance e funções para que os benefícios sejam compreendidos
Há segredos que é melhor não serem desvendados
Saberá do essencial.

EPR

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Então o paradoxo desaparecerá e manifestar-se-á plenamente a profunda simplicidade do seu significado



Paradoxos

Para com a doxomania 
Quem tudo quer nada tem
Almeje apenas o necessário para um dia
 Ambicione o ambíguo
Alguém que cobice o nosso êxito
Apeteça o apételo
É melhor ires antes que me apeteça alguma coisa
Ou talvez lhe apeteça algo um pouco mais leve para a caixa torácica
Ascenda um incenso
Pancaio sem pancalismo
Será sempre um pancão
Pancárpia para a pancardite
Os valores referem-se às componentes utilizadas pelo critério de parcimônia como covariáveis
Não levará para cova divícias
Nenhum dividendo
Será sua punição divina
Para evitar o sofrimento cultivamos o desapego
Renúncia da pronúncia
Puncionar o silêncio
Isto requer abnegação.

      EPR