imagem: Rio Potomac, onde ocorreu uma colisão de um helicóptero e um avião no dia 29/01/2025
Agora que seu líder é um fascista fascíola, vai ser difícil o adejo; acostume-se com o redil e regule o fluxo de suas reações, talvez tenha fascipenes e todo fascínio aéreo vai se acabar. Exúvio? O radome não sente nenhum eflúvio, todo aquele perfume de alfazema que costumava acalmar os ânimos e trazer serenidade agora se perde na indiferença tecnológica, e longarinas dificultam sua fluidez, e o trem de pouso flutua de cabeça para baixo, preso no vórtice de uma espiral invertida. O horizonte artificial já não indica estabilidade, pois o giroscópio enlouqueceu, embriagado por turbulências morais. A fuselagem range com a tensão de parafusos gastos, como se protestasse contra a trajetória imposta. O manche que esquanche e se torne um apêndice inútil, uma engrenagem que ninguém obedece. O transponder pisca em uma cadência errática, atraindo os peixes mais curiosos, código cifrado, SOS disfarçado de normalidade, algoritmos repetindo mantras ocos. O painel, como um altar profano, onde a própria matéria hesita entre colapso e resistência, suspensa no limiar de uma rendição sem testemunhas. Onde a fronteira entre dentro e fora se dissolve, e o casco já não protege, apenas atrasa o abraço do abismo. O altímetro maltreito, sem ponteiros, marca uma distância que já não é mais mensurável. A deriva já não é escolha, mas sentença, traçada em rotas que não levam a lugar algum. O horizonte, se ainda existisse, estaria dissolvido em uma distopia onde a noção de altura e profundidade se tornou abstração. Turbinas em agonia contida, lâminas dilacerando, esgarçando sua própria estrutura, agora são túneis para zabucaís famintos, que espreitam o vulto metálico como um cardume hipnotizado pela estranha criatura que invade seu domínio, onde a água se infiltra lenta e inexorável, preenchendo os vazios deixados pelo ar que escapa em bolhas dispersas. Outros virão antes que você perceba, prejerebas no prejudicado ambiente, deslizando na neblina líquida como espectros que se alimentam da decadência, caindo sobre as feridas abertas da máquina, em busca de fragmentos que restaram das suas formas, antes vivas. O fluxo da água se intensifica, um murmúrio crescente que se mistura ao rangido da estrutura, onde o metal já não é mais aliado, mas um corpo que se derrete nas mãos do tempo, devorado por um oceano implacável. As fendas, agora mais profundas, permitem que as sombras se arrastem por dentro, invadindo os interiores, onde os sistemas de navegação piscam, as luzes vacilam em uma última tentativa de manter a ilusão de controle. Mas os prejuízos não são apenas estruturais, são existenciais. A caixa preta foi encontrada entre os destroços, coberta por fuligem e detritos, mas ainda intacta, um testemunho dos últimos momentos, pronta para revelar a verdade sepultada no caos. Isso tudo é fuselagem, isso não te concederá as asas que almejas, nem se sugar uma frota; a flotilha precisa de mais baunilha, a baritimia da barita.
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