sábado, 20 de dezembro de 2014

Última de 2014:Vídeos Poéticos

Todo mundo precisa de um empurrãozinho



     As lentas nuvens fazem sono
Fernando Pessoa

As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro


Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro.
E só em sonho eu vou seguindo.
                                                                                                                                                


                                             

Turbulências 
Ednei Pereira Rodrigues

Estranha Estratosfera 
A Estrela Estreita como estrepe 
Nefelibata para Espairecer 
Tudo Multiforme 
Aquela como mufla 
Para respirar o Azoto 
Lembrar do Esgoto 
Outra como coxim 
Para a sota do coxêndico 
Para o descanso da fuselagem 
Trôpego na Troposfera 
Tropeço no Trópico 
A indecisão me fez arremeter 
Prestes a despressurizar 
Dilacerar outro dilema 
Irromper o Cirro 
Nimbar este ambiente denso
De volta à estaca zero 
Retomar o controle 
A decomposição na decolagem 
Sugado pela Turbina 
Helianto contra a Hélice.



SONETO COM PÁSSARO E AVIÃO
Rio de Janeiro , 2004
De "O grande desastre do six-motor francês 
Leonel de Marmier, tal como foi visto e vivido pelo poeta 
Vinicius de Moraes, passageiro a bordo" 

Uma coisa é um pássaro que voa 
Outra um avião. Assim, quem o prefere 
Não sabe às vezes como o espaço fere 
Aquele. Um vi morrer, voando à toa 

Um dia em Christ Church Meadows, numa antiga 
Tarde, reminiscente de Wordsworth... 
E tudo o que ficou daquela morte 
Foi um baque de plumas, e a cantiga 

Interrompida a meio: espasmo? espanto? 
Não sei. Tomei-o leve em minha mão 
Tão pequeno, tão cálido, tão lasso 

Em minha mão... Não tinha o peito de amianto. 
Não voaria mais, como o avião 
Nos longos túneis de cristal do espaço...


               

Nenhum comentário: