domingo, 25 de janeiro de 2015

São Paulo 461 anos




SEGUNDO PAPEL
Tarso de Melo

(Planos de fuga e outros poemas. São Paulo: Cosac Naify;
Rio de Janeiro: Viveiros de Castro Editora, 2005. p.70)

 
a cidade é o óbvio,
o que salta aos olhos
ulula, o que brilha
e fede

a cidade é o cais
caos sob controle
outro dia de luto,
de luta, de luxo

a cidade é perder
outro sol que agride
outra lua (a cidade comporta),
mesma via

e é sempre tarde
e o lugar que falta
e o que nos prende,
perene, perece




Tamanduá no Martinelli


Ednei Pereira Rodrigues
 

No ápice o ínfimo
Somos todos formigas
Toda lascívia da língua
Envolvente acepipe
Aceita a aceleração
O tênue aceno
Toda sinuosidade será castigada
Evocam o mafarrico na encruzilhada
A mácula da macumba
O laico é laido
Desvio que desvirginiza a distância
A vereda da verba
A vergonha do político corrupto
A corrosão do abandonado
Um atalho que ata
Um meandro ataráxico
Alternativa para essa Altitude
Para tanto Escarcéu
Tanto escárnio que mais um escarro é dádiva saliva saliente
Esteroide detecta um Asteroide
Metrô atingido por um Meteoro
Suas portas automaticas guilhotinadas
Não decapitaram o célere
Apocalipse Apócrifo
Escancha para a última cópula
Rascoa coa o gozo Rascante
O bagaço satisfaz a bagaxa
Marafona como fona causa marasmo
Tudo com contrastes de escarlate
Antologia do disparate
Seu catamênio análogo a uma catástrofe. 




ÀS MINHAS COSTAS
Sérgio Alcides
(O ar das cidades: poemas (1996-2000). São Paulo: Nankin, 2000. p.33

As portas do metrô mastigam
o ar condicionado.

Estou em trânsito, com os demais.
Percorremos a rede incorpórea
que há de permanecer.

Não se ultrapassa a linha amarela.
Nada cheira. E a escada rolante
- áspera via - até se alegoriza

ao conduzir-nos de volta ao simulacro
passageiro das avenidas.

Na saída, ponho os óculos escuros.

Nenhum comentário: