sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Triedro Poético:Outro Manuel_Beatles_DRUMMOND


Os sapos

Manuel Bandeira


Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os delumbra.



Em ronco que a terra,

Berra o sapo-boi:

– “Meu pai foi à guerra!”

– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”



O sapo-tanoeiro

Parnasiano aguado,

Diz: — ” Meu cancioneiro

É bem martelado.



Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.



O meu verso é bom

Frumento sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.



Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A formas a forma.



Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas…”



Urra o sapo-boi:

– “Meu pai foi rei” — “Foi!”

– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”



Brada em um assomo

O sapo-tanoeiro:

– “A grande arte é como

Lavor de joalheiro.



Ou bem de estatutário.

Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,

Canta no martelo.”



Outros, sapos-pipas

(Um mal em si cabe),

Falam pelas tripas:

–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”



Longe dessa grita,

Lá onde mais densa

A noite infinita

Verte a sombra imensa;



Lá, fugido ao mundo,

Sem glória, sem fé,

No perau profundo

E solitário, é



Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu

Da beira do rio…


1918


The Beatles I am the warlus: https://www.youtube.com/watch?v=5Vv_xyNjMC0#t=10


Silêncio Ensurdecedor
Ednei Pereira Rodrigues

Código Morse para se comunicar com a morsa
Um sotaque para soterrar
Ninguém entendi o que enternece
Tudo em prol de meu Laconismo
Começo a coaxar para o sangue coagular
O prolapso do Átrio
O Atrito do Atril com o corpo
Através do Atravessado
Atraio a Atrabílis      
O Lacre Lacerante
Um rugido para as Ruínas
O Rumor é Rúptil
Ruptura no vazio
Fazer rusga para o rude.





Suspendei um momento vossos jogos
na fímbria azul do mar, peitos morenos.
Pescadores, voltai. Silêncio, coros
de rua, no vaivém, que um movimento

diverso, uma outra forma se insinua
por entre as rochas lisas, e um mugido
se faz ouvir, soturno e diurno, em pura
exalação opressa de carinho.

É o louco leão-marinho, que pervaga,
em busca, sem saber, como da terra
(quando a vida nos dói, de tão exata)

nos lançamos a um mar que não existe.
A doçura do monstro, oclusa, à espera...
Um leão-marinho brinca em nós, e é triste. 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
A vida passada a limpo, 1959

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