Os sapos
Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
—
Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
–
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
–
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
–
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
—
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
–
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
–
Urra o sapo-boi:
– “Meu pai foi rei” — “Foi!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
–
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
– “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
–
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
–
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
–
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
–
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
–
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
–
1918
The Beatles I am the warlus: https://www.youtube.com/watch?v=5Vv_xyNjMC0#t=10
Silêncio Ensurdecedor
Ednei Pereira Rodrigues
Código Morse
para se comunicar com a morsa
Um sotaque para
soterrar
Ninguém
entendi o que enternece
Tudo em prol de meu Laconismo
Começo a
coaxar para o sangue coagular
O prolapso
do Átrio
O Atrito do
Atril com o corpo
Através do
Atravessado
Atraio a
Atrabílis
O Lacre
Lacerante
Um rugido
para as Ruínas
O Rumor é
Rúptil
Ruptura no
vazio
Fazer rusga
para o rude.
Suspendei um momento vossos jogos
na fímbria azul do mar, peitos morenos.
Pescadores, voltai. Silêncio, coros
de rua, no vaivém, que um movimento
diverso, uma outra forma se insinua
por entre as rochas lisas, e um mugido
se faz ouvir, soturno e diurno, em pura
exalação opressa de carinho.
É o louco leão-marinho, que pervaga,
em busca, sem saber, como da terra
(quando a vida nos dói, de tão exata)
nos lançamos a um mar que não existe.
A doçura do monstro, oclusa, à espera...
Um leão-marinho brinca em nós, e é triste.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
A vida passada a limpo, 1959
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