segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Murilo Mendes
Corte transversal do poema
Murilo Mendes
A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou.
Dissecação
Ednei Pereira Rodrigues
A corte disse que o corte no córtex foi cortês
Mas o cruor crual foi cruzado
Inútil correr
A corrente é curta
A correnteza surta
Preso ao fundo pela âncora
Para não salpicar a cortina
Netuno apareceu em seu submarino conversível
Fez cortesia com o escafandro
E comprou o neurônio
Que pensava em você
Um corsário
Furtou minhas corricas
Rejuvenesci uns 20 anos
Bilhar com meus olhos
Vertigem bilateral
Ao bilontra sobrou apenas minha bílis
A sífilis para a biltra
Seu corrimento não era suficiente
O bímano queria minha mão
Depois não conseguiu segurar o corrimão
Façam bom proveito
Não preciso mais de nada disso
Evolui.
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