Mulher na janela - Salvador Dali
A mesma história contada de 3 maneiras diferentes
Como ela surgiu?
A poesia que me inspirou...
Manhã
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
Sophia de Mello Breyner Andresen
A janela de Janice
Versão verborrágica
Pelo jalne que entrava pela janela, sua jaula, seu jazigo. Jaula porque? Não era ré, apenas gostava de ficar observando tudo, a testemunha ocular dos fatos, muitas jardas contemplava. Jazigo porque? Não estava morta, mas às vezes parecia, por causa do tédio que a envolvia.
Janice sabia que estava amanhecendo. Não obedecia mais aos relógios, ficava aos brados dizendo vários números diferentes, mas eles não se confundem. Sua janta era o desjejum, comeu o resto do javali que se encontrava no forno.
Mostrava jactância ao jacular seu esputo no janota jalofo. Sempre distraído com seu jaleco, talvez seja médico ou babalorixá, nem se importou com a sua baba que escorria, nem à viu lá em cima também, momentos de falta de juízo, nada justifica suas atitudes um tanto joguetes.
Sua casa era imponente, estrutura revestida de jaspes. Seu jardim de jasmins, chamava a atenção de todos que passavam. Como um jato, julgavam-na jumenta, mas Janice era culta, falava javanês, seu jargão era justo. Precisamos tratá-la com jeito.
Jovial, só tinha um defeito no joelho, claudicava às vezes em sua jornada limitada pela esquina. O jeito dos seus olhos me fascina, judia quando ofusca e não consigo analisa-la.
Versão Trágica
Depois do dilúvio, Janice só conseguia sair de casa pela janela, de jangada remava entre seu jardim de jasmins destruído. O trabalho do jardineiro tinha sido mesmo inútil, antes e pós tragédia. Antes porque o incompetente não sabia qual era a diferença entre uma erva-daninha de um jasmim, e também por causa da jamanta de seu ex- idílio. Um jagunço viciado na jogatina, quase entrou dentro de sua casa com o veículo. Jurou nunca mais amar ninguém.
Janice e seus amores amorfos, o jóquei que tinha lhe dado uma jóia de presente, caiu do cavalo, ficou paraplégico. O jornaleiro teve a jugular cortada em um assalto no asfalto onde deixou seu sangue que agora estava limpo. Sobreviveu apenas o Róscio rotundo, lembrou dele por vários motivos: quando passou pelo rossio, lembrou daquela rua e da rubéola que tinha, quando começou o rocio, será que vai chover mais ainda? talvez peça ajuda para ele. Mas por rócio, Janice era egoísta, iria vogar á deriva, até não agüentar mais. Estava rota em sua rota. Sem rumo o rumor era rústico.
Janice, já tinha pensado em suicídio antes da calamidade, ruía aos poucos por Rui o ruminante, mas quem diria que aquele dia não seria igual aos outros, estava tudo igual a décadas. O que mais cansa nessa vida e a rotina, o rótulo das coisas.
No entanto com o passar do tempo, estava ficando cada vez mais melancólica e a lembrança de momentos felizes, mesmo que eles fossem agora tristes por não poderem repetir-se, acabavam sendo preciosos instantes que comprovam a existência num mundo solitário que parecia não pertencer ao momento de ninguém. Pelo menos não ia acabar entre quatro paredes, sendo observada pela televisão. Estava livre!
Versão Surrealista
A luz que vinha de longe, não iluminava direito o papel. De propósito? Janice não queria ser personagem de um romance, pois eles são muito detalhistas.
A retina restringe a paisagem, teria que ser como Argos para te analisar. Empresta está sua complexidade? só até o próximo parágrafo. Reticente apenas sigo seu rastro, citígrado no resvalo.
Se olhado bem do alto a fraca luz parecia uma estrela, como se um espelho dividisse o céu, como se a calma que se imagina existir no espaço e toda sabedoria e conhecimento do infinito pudesse residir também naquele campo. O infinito só existe para limitar nossa capacidade de imaginação. Havia sempre um barulho de música por perto, quimeras não tocam mais pífaro. Quieta e não é quizila, ontem onomatopéica.
Tudo parecia estar no lugar, mas confundiu a janela com a porta, ao cair não se esborrachou no chão, aprendeu a voar como um jaçanã. Sua jornada sem limites, exílio desta metrópole, repatriação na Lua, como selenita. Passa por Júpiter, Saturno e em Marte fez estada. Rubrípede, depois de andar em sua superfície, Antares antálgica. Galga mais uma galáxia. Percebeu o supérfluo, o improfícuo flúor. Agora anodonte, muitos anos taciturna, sem manifestar o riso. Inútil aljôfar, antes de anoitecer anômala, volta para casa com a solidão prosélita, aperta o passo, tenta dispersa-la, sobre ela estás. Ela sempre chega antes, espera na sala.
Sentiu o que todos na verdade sentiam algumas vezes, aquela
quase certeza de ter entendido a razão das coisas. Percebeu o quase inevitável envelhecimento e a importância das pequenas razões da vida, notou o que era caminhar sozinha pelos outros. A vida não precisava de muitas coisas para ter sentido, mas não, ainda várias pessoas achavam o contrário e deixavam as vidas passarem sem as viverem.
Talvez amanhã eu entenda.
domingo, 18 de janeiro de 2009
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