sábado, 31 de janeiro de 2009

Mudaram minha cama de lugar,mas os sonhos continuam os mesmos



In pieces

Angustipene
Próximo do ínfimo
Angústia como arrimo
Indúcias impenes
Tudo me pesa
Um pesadelo singelo
Degelo para espremê-lo
No travesseiro defesa
Lágrimas escorrem de través
Travo ignavo
Ignaro ao bizarro
O claro às avessas
Um iglu derrete no deserto
Você glute
Como vermute
Deixa-me mute
In pieces
Tento pingar
In a pinch
In with you
In a few words
A ferida mantém a ordem
O féretro é reto
Retro da retriz.

domingo, 25 de janeiro de 2009

São Paulo 455 anos




Extensa floresta de paralelepípedos
Arrasta sobejos de etnias
Para seus labirintos de vias
Às vezes perdidos
Entre arranha-céus arrogantes
Procuro você taciturno
Cansado vou de táxi inseguro
Sem dinheiro desço antes
Procuro emprego entre um acidente
Assalto no asfalto
Salto alto
Sobre uma barraca de um camelô displicente
Para fugir da bala perdida
Pólvora para poluir
O ar que respiramos sem polir
Sua paisagem vertical com vida
Desigualdade social
Ansiedade irracional
Quase um Éden que consolida.

Os incomodados que se mudem!

São Paulo
365.
Composição: Finho / Ari Baltazar

Tem dias que eu digo "não"
Inverno no meu coração
Meu mundo está em tua mão
Frio e garôa na escuridão...

Sem São Paulo
O meu dono é a solidão
Diga "sim"
Que eu digo "não"...(2x)

Tem dias que eu digo "não"
Inverno no meu coração
Meu mundo está em tua mão
Frio e garôa na escuridão...

Sem São Paulo
Oh! Oh! Oh!
O meu dono é a solidão
Diga "sim"
Que eu digo "não"...(2x)

Quem é seu dono?
Ninguém, São Paulo
Quem é seu dono?
Ninguém, São Paulo...

Tem dias que eu digo "não"
Inverno no meu coração
Meu mundo está em tua mão
Frio e garôa na escuridão...

Sem São Paulo
O meu dono é a solidão
Diga "sim"
Que eu digo "não"...(2x)

Desperta São Paulo!
Desperta São Paulo!


Beco sem saída




Alguns falavam com os bem-te-vis
Nas manhãs em que tudo fluía
O ferimento não mais doía
Mais ainda escoava sangue do chafariz
Onde mendigos se banhavam
Tomei um ar de constrangimento
À frente do convento
Bêbados brigavam
Pelo beco sem saída
Pela begônia
Pela jóia
Furtada da suicida
Quer trocar pelo meu furúnculo?
Indagava um
Com brumbrum
Sotaque fulo
Combina com a peleja que continua
Pelo bebê
Pelo bidê
Não agüentou o pontapé e recua
O outro
Tomou a criança nos braços e saiu
Outras crianças de saia
Negociavam o corpo
Outros esperavam por um pouco de carinho
Em forma de comida
Na fôrma sempre vazia
Um pouco de toicinho
Só não queria-se sentir frio
Só se queria um pouco de atenção das palavras
E das larvras
Andava-se sem destino no vazio
Virou freguês
Sentava-se também sem ele
E via-se o movimento imbele
Imbecil às vezes
Seria bom se as coisas fossem acabar um dia
E se os dias acabassem
Antes do impasse
Antes da azia
Antes que a dor fosse insuportável
Já viu que no fim
O esplim é estopim
E todos chegam ao provável
Independente da pressa
Que atravessa o intransitável
Não presta atenção ao instável
Não se confessa para a travessa
Não esqueça de ver a lua
Conversar com os selenitas
Sem-cerimônia
Com acrimônia
Ser semelhante a um semáforo que reflita
Toda dor que sente
Não se esquecendo de prestar atenção às coisas
Não deixando a vida passar como as águas fracas
Pelos seixos que consente
Errôneos desesperos ocultos
Podia ver a rua
Através da janela crua
Fui evoluindo através dos séculos
Torça pela chuva na estréia
E vá com ela rio abaixo
Eu ainda me encaixo
Até virar areia
Não ser mais nada
Ser o suficiente sem arrogância
Para não ter nenhuma importância
Caminho nesta encruzilhada
Extensa reta que subscrito
Desconheço a extensão das medidas
Vastas avenidas
Daquelas que só se encontram no infinito.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Cecília Meireles - A poetisa do século

“Eu canto porque o momento existe / e a minha alma está completa./ Não sou alegre nem sou triste:/ Sou poeta.”// Irmão das coisas fugidias,/ não sinto gozo nem tormento. / Atravesso noites e dias / no vento.// Se desmorono ou se edifico,/ se permaneço ou me desfaço,/ – não sei, não sei. Não sei se fico / ou passo.// Sei que canto. E a canção é tudo./ Tem sangue eterno a asa ritmada./ E um dia sei que estarei mudo:/ – mais nada.”

Criação de Personagem

Mulher na janela - Salvador Dali

A mesma história contada de 3 maneiras diferentes

Como ela surgiu?

A poesia que me inspirou...

Manhã

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

A janela de Janice

Versão verborrágica

Pelo jalne que entrava pela janela, sua jaula, seu jazigo. Jaula porque? Não era ré, apenas gostava de ficar observando tudo, a testemunha ocular dos fatos, muitas jardas contemplava. Jazigo porque? Não estava morta, mas às vezes parecia, por causa do tédio que a envolvia.
Janice sabia que estava amanhecendo. Não obedecia mais aos relógios, ficava aos brados dizendo vários números diferentes, mas eles não se confundem. Sua janta era o desjejum, comeu o resto do javali que se encontrava no forno.
Mostrava jactância ao jacular seu esputo no janota jalofo. Sempre distraído com seu jaleco, talvez seja médico ou babalorixá, nem se importou com a sua baba que escorria, nem à viu lá em cima também, momentos de falta de juízo, nada justifica suas atitudes um tanto joguetes.
Sua casa era imponente, estrutura revestida de jaspes. Seu jardim de jasmins, chamava a atenção de todos que passavam. Como um jato, julgavam-na jumenta, mas Janice era culta, falava javanês, seu jargão era justo. Precisamos tratá-la com jeito.
Jovial, só tinha um defeito no joelho, claudicava às vezes em sua jornada limitada pela esquina. O jeito dos seus olhos me fascina, judia quando ofusca e não consigo analisa-la.



Versão Trágica




Depois do dilúvio, Janice só conseguia sair de casa pela janela, de jangada remava entre seu jardim de jasmins destruído. O trabalho do jardineiro tinha sido mesmo inútil, antes e pós tragédia. Antes porque o incompetente não sabia qual era a diferença entre uma erva-daninha de um jasmim, e também por causa da jamanta de seu ex- idílio. Um jagunço viciado na jogatina, quase entrou dentro de sua casa com o veículo. Jurou nunca mais amar ninguém.
Janice e seus amores amorfos, o jóquei que tinha lhe dado uma jóia de presente, caiu do cavalo, ficou paraplégico. O jornaleiro teve a jugular cortada em um assalto no asfalto onde deixou seu sangue que agora estava limpo. Sobreviveu apenas o Róscio rotundo, lembrou dele por vários motivos: quando passou pelo rossio, lembrou daquela rua e da rubéola que tinha, quando começou o rocio, será que vai chover mais ainda? talvez peça ajuda para ele. Mas por rócio, Janice era egoísta, iria vogar á deriva, até não agüentar mais. Estava rota em sua rota. Sem rumo o rumor era rústico.
Janice, já tinha pensado em suicídio antes da calamidade, ruía aos poucos por Rui o ruminante, mas quem diria que aquele dia não seria igual aos outros, estava tudo igual a décadas. O que mais cansa nessa vida e a rotina, o rótulo das coisas.
No entanto com o passar do tempo, estava ficando cada vez mais melancólica e a lembrança de momentos felizes, mesmo que eles fossem agora tristes por não poderem repetir-se, acabavam sendo preciosos instantes que comprovam a existência num mundo solitário que parecia não pertencer ao momento de ninguém. Pelo menos não ia acabar entre quatro paredes, sendo observada pela televisão. Estava livre!



Versão Surrealista




A luz que vinha de longe, não iluminava direito o papel. De propósito? Janice não queria ser personagem de um romance, pois eles são muito detalhistas.
A retina restringe a paisagem, teria que ser como Argos para te analisar. Empresta está sua complexidade? só até o próximo parágrafo. Reticente apenas sigo seu rastro, citígrado no resvalo.
Se olhado bem do alto a fraca luz parecia uma estrela, como se um espelho dividisse o céu, como se a calma que se imagina existir no espaço e toda sabedoria e conhecimento do infinito pudesse residir também naquele campo. O infinito só existe para limitar nossa capacidade de imaginação. Havia sempre um barulho de música por perto, quimeras não tocam mais pífaro. Quieta e não é quizila, ontem onomatopéica.
Tudo parecia estar no lugar, mas confundiu a janela com a porta, ao cair não se esborrachou no chão, aprendeu a voar como um jaçanã. Sua jornada sem limites, exílio desta metrópole, repatriação na Lua, como selenita. Passa por Júpiter, Saturno e em Marte fez estada. Rubrípede, depois de andar em sua superfície, Antares antálgica. Galga mais uma galáxia. Percebeu o supérfluo, o improfícuo flúor. Agora anodonte, muitos anos taciturna, sem manifestar o riso. Inútil aljôfar, antes de anoitecer anômala, volta para casa com a solidão prosélita, aperta o passo, tenta dispersa-la, sobre ela estás. Ela sempre chega antes, espera na sala.
Sentiu o que todos na verdade sentiam algumas vezes, aquela
quase certeza de ter entendido a razão das coisas. Percebeu o quase inevitável envelhecimento e a importância das pequenas razões da vida, notou o que era caminhar sozinha pelos outros. A vida não precisava de muitas coisas para ter sentido, mas não, ainda várias pessoas achavam o contrário e deixavam as vidas passarem sem as viverem.
Talvez amanhã eu entenda.

Obdurar a metáfora


Litólatra 

 Só as pedras da rua da matriz me entendem
 Ando taciturno ultimamente
 Freia um táxi em minha frente 
 O chofer e a freira não percebem
 O chofre por causa do chope
 Caio mas logo levanto
 Antes elas ouviram meu pranto
 Insultos se misturam com singultos do golpe
 Claudicante clássico
 Desistiram do murmuré sem medula
 Com minha clavícula
 Casulo para o impudico
 Casual encontro glabro com o poste obliterado
 Deixo a sarjeta sem agrado
 Ciumenta do descalabro
 Regresso ao ponto de partida
 Algo clarifica o mastro
 Meu quarto
 A ferida
 Talvez o giroflex da polícia
 Faço polichinelo na cozinha
 Chamo a atenção da vizinha 
 Acostumada com a anestesia
 No chão do quarto
 Erguia-se uma coluna de livros ordinários 
 Sublevar um bulevar é mesmo necessário
 No último ato 
Deito com um paralelepípedo
 Reclamou de minhas vibrissas
 Ainda atiça
 Quase empedro.


                                    EPR

domingo, 11 de janeiro de 2009

Cemitérios me inspiram




Necrofilia

Luar lúgubre
Denota jactância
Descalço oscilo na vagância
Sobre sua cova rasa insalubre
Terra macia sem pregas
Por causa de meu pranto
Sinto sua ossada em um canto
Seu cóccix faz cócegas
Exumo com a úngula
Logo me acostumo
Dedos delgados sem rumo
Perdidos em sua medula
Incautos orgasmos
Seu ventre venusto
Veste Vênus vetusto
Com espasmos
Excitantes exéquias
Sua enzima me subestima
Cópula com suas rimas
Sem blandícias
Víbora pecadora
Devolva-me o viço
Ganhou na víspora o criso
Minha alma outrora
Outorga o sorriso
Distraída com o ciclo
Às escondidas na adutora
Vibrissas não me deixam sentir seu engodo
Seu aroma
Meu coma
Fiel ao lodo.

                                               EPR

domingo, 4 de janeiro de 2009

ZOOLÓGICO POÉTICO


crítica surrealista ao presidente
atelépode:falta de um dedo
ATÉ LESAR PODE
Já viste uma poesia com tantos subtítulos?

Gato escondido

O til parece com a cauda
Não falar com o conhecimento de causa
Provoca dúvidas, a pausa
Disfarce, a claque que aplauda
Em seguida o ponto de interrogação
Parece com uma bengala
Ou adaga, melhor que bala
Corta o adágio que interrompe a ação
Os acentos circunflexos
Parecem com suas orelhas
Aconselha as abelhas
A não construírem sua colmeia no complexo
Atiraram o cajado no gato
Esquecida por um gagá leviano
Gago ao dizer eu te amo
Tartamudeio como as tartarugas no hiato
Irá a Paris pelo retrato
Só para ver o Luar
Acentua antes que eu conclua
Quando o hífen separa o abstrato
Separar o joio do trigo no tato
E o gado
E o agrado
Para dar a impressão de olfato
De algo bucólico
Bufa o búfalo
E o burundum no resvalo
O brumbrum idílico
Sem armas no intuito
Só com seu buquê
Um buque no estuque
Também não ia ajudar muito
Quando a ignorância
E igual a de um iguana
Mostra-se atelépode na gana
Em atenção a arrogância
Chique e o chiqueiro da elite
Cliente de clichês
Cita o descortês
Pararam para ouvir a cítara sem limite.

domingo e dia de ir ao zoológico!

Ouro de Tolo
Raul Seixas
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...

Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...

Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...

Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...

Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...

É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...

E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Fiquei esperando a avalanche



Ecos do écran

 E o poema se fez do cal
 Eclodiu calado
 Calabreado iletrado
 Talvez por calaça 
Por falta de faculdades
 Calamidades 
Teve o aval da avalanche
 Sem chance com as grades 
O écran albicole
 Recôndito do alarido
 Multicolorido gemido
 Falta descontrole
 No calabouço literal
 Encéfalo encelado
 Encena o ensejo
 Ensimesmo insocial 
Alforriado pelo infinito
 Continua exato
 Chato
 Candidato ao abstrato não dito
 Todo mérito ao alvanel 
O alvo alveja
 Antes que a pupila veja 
Veleja na cela do celofane.

                                   EPR