imagem: encontro com a poetisa, ensaísta e cronista Mariana Ianelli na Biblioteca São Paulo no dia 14/06/2025 lançamento do livro Desculpa qualquer coisa, compilação dos melhores textos produzidos em 2024 na oficina Ateliê de Criação Literária e edição Celso Suarana(Abarca editorial) pela curadoria de Olyveira Daemon
Terá sido
O mais sufocante verão
Desde décadas
O inverno mais severo
Pouco importa:
Lembrar fará arder a brasa
E os meandros
Serão desses de fumo
Que mal se desenham no ar
Se desfazem.
A mão pensativa
Não mentirá sobriedade
Dançará
Um nome fulvo sobre o papel
Um céu sem nuvens
Dançará esta mão
Menina insolente
Sem quem lhe veja
As pontas dos dedos
Alcatroadas de solidão.
Mariana Ianelli
extraído do site: https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/5-poemas-de-mariana-ianelli/
Lembranças de coisas que nunca aconteceram
Lembro do Cembro
Sombreando a casa como um êmbolo coagulado entre o que fui e o que ainda insisto em esquecer
Muitos dias de chuva e tudo começa a embolorar, como se o tempo escorresse lento pelas paredes
Não adiantou deixar alguns pensamentos (os mais importantes) na parte mais arejada da casa... eles também acabaram mofando
Não vou embonar a metáfora
Embornecer arredores para dissolver aos poucos o espesso da ausência
Sob o verniz falso da rotina
Escordar o escórdio não vai te ajudar em nada
Quando a escória se confunde na escoriação
Todo escorjamento é memória da carne negando a própria pele
Ecdise para escornar o arruá
Diálos atorçalado no seu batismo
Acantoado sem adnotação
Sentir-se apartado de tudo é normal
Quando até o ar parece coagulado de culpa
Aninhado entre os músculos, como ferrugem que aprende a falar
Sem reclamar da maresia
O batissófico ainda me inspira
Trófico de um praxe que insiste em me devorar por dentro
Um pouco do ftórico não vai te fazer mal
Quando o teórico já morreu
Sinto falta de pistache
Todo piche que escorre pelas frestas, querendo me cobrir
Onde cada palavra que eu cuspia voltava em forma de nó
Onde a fome era mais de esquecimento do que de sustento
E eu, reduzido ao intervalo entre o susto e a resposta
Fingia controle enquanto me entregava à combustão lenta
Do verbo que nunca deveria ter sido dito
Porque até o erro tem seu ritual.
embonar- Reforçar exteriormente o costado de um navio.
Metal Cobrir molde de fundição com chapa de madeira para permitir posterior fresamento.
Fresamento é um processo de usinagem para criar engrenagens
Embornecer-verbo transitivo mesmo que amornar
Escordar-Variação de recordar
Escórdio-ubstantivo masculino[Botânica] Menta europeia perene, macia (Teucrium cordium), com flores cuja cor varia de cor-de-rosa a roxa, a maioria axilares; escorodônia.Arruá-adjetivo[Brasil] Arisco, espantadiço, desconfiado.Indócil, mau, raivoso.Ecdise-substantivo feminino[Biologia] Ato de soltar ou perder o tegumento, como no caso de certos insetos, a pele nas serpentes, a pelagem em certos mamíferos e a plumagem entre as aves; muda. Antôn: êndise.
Atorçalado-adjetivo,Que foi enfeitado de torçal; que foi adornado com fios de ouro.Diálos-variante de "diávalos" tradução do grego para o português de Diabo
Acantoado-adjetivo,Posto a um canto; apartado, isolado.
Adnotação-substantivo femininoResposta do papa, mediante simples assinatura, a um pedido.batissófico-adjetivoRelativo ou pertencente ao conhecimento das profundidades do mar ou às coisas ali encontradas.
Trófico-adjetivo,Relativo à alimentação (de um indivíduo, de um tecido vivo etc.).ftórico-adjetivoQue se refere a ftório; fluórico(flúor).
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