terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Inspiração pós-festejos: continuação alitera

 





FIM DO ANO


André Carneiro


0 futuro é um pássaro assustado
na direção da minha testa.
Recuo, às vezes, mas a terra
gira satélites implacáveis.
Calendários são
asas na madrugada
dissolvidas à meia noite.
Enterro o relógio,
misturo a matemática,
não adivinho se é sábado, aniversário
ou desfile da independência ou morte,
Chove, as nuvens surpresas
escorrem no cimento,
a terra seca morre sepultada
com seus olhos de areia.
Algumas espécies desaparecem hoje,
os lemingues engolem as ondas
no suicídio inexplicável.
Perdemos o centro do universo,
abandonados pelos deuses
somos primatas apenas.
Falta o alienígena descer
da nave resplandecente
e partir de novo movendo
frustrados tentáculos.
Nossa escrita
nem golfinhos
compreendem,
mas decifro a língua
da abelha dançarina.
Há muita esperança no amor.
Todos se cumprimentam,
mostram dentes limpos,
presentes com largas
fitas vermelhas.
Escrevo o poema adolescente
esquecido na minha inocente cabeça.

***

A metáfora já está prístina


A sístole só na Sistina

Eliciar elipses

Porque não quer dizer que a inspiração veio pós ida a pistrina

O pâncreas já parou de produzir tripsina

E ninguém se importa com anagramas viscerais

É irrelevante saber que romances foram escritos pós ida ao alcoice

Quando o épico é píceo

Devaneios já estão caquéticos & manquitolas

Quando é tola toda forma de pensar

É tudo tolã

Ela disse Olá quando estava indo embora

Fiquei sem entender

Quando se esvai a razão em mero delírio

Você pode se adaptar a essa maneira de viver

Sem se preocupar com o futuro que agora está insopitável e traz insossego

Todas suas expectativas frustrantes relegadas

O oráculo falhou em responder todas as incertezas

De onde viemos, para onde vamos?

A percepção do presente e do passado se perdeu

Todo esse anacronismo me faz pensar no que ainda não fiz

O tempo desperdiçado com futilidades

Devo considerar as viagens fora dos meus pensamentos?

Devo me preocupar com o que está além da minha percepção?

Ou devo me concentrar no que está diante de mim?

A realidade tangível é tão inexorável que, por mais que nos esforcemos para moldá-la ou negá-la

Ela nos transcende com uma força incontrolável, levando consigo nossas ilusões, nossos desejos e até mesmo nossa essência, deixando-nos frente a frente com a verdade nua e crua de nossa existência finita e imperfeita.              

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