segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Inspiração Libertária

Por favor!
Tirem a poesia do livro
Tirem o livro do sufoco
De uma estante
Nem que seja por um instante
Tirem a poesia do livro
Risque-a nos muros
Extraia dos pulsos
Joga no universo
Nem que saiba
Um verso
Eu te peço
Por favor
Tirem a poesia do livro
Não faz sentido
Deixa-las lá
Ela quer dançar
Pintar o mundo
Em tom maior
Ela quer brilhar
Feito o sol
Voar feito borboletas
Na primavera
Ele quer viver a nova era
Fora da biblioteca
Na viela do gueto
Ela quer rachar o preconceito
De quem se veste de acadêmico
Para vomitar palavras vazias
A poesia quer falar errado

Ou melhor, desconstruir
O supostamente certo
A poesia quer ter acesso
Ao seu coração
Então por favor
Tirem-na da prisão
De um livro fechado

                                                       Danilo Lumiano

 

Imagem:On Going on a Journey, 2004Jonathan Wolstenholme


Metáfora canina



É prudente evitar expectativas excessivas

Ela não demonstrará entusiasmo toda vez que você chegar

Anura pós caudectomia

Ela não vai marcar território

Você pode levá-la para deambular no parque

Ela já se cansou do parquete

Não se preocupe com o parquímetro

E ao estatelar-se sob a sombra de uma árvore

Ignore a estática

Seja Estatano

Afrouxe a coleira, permita-lhe respirar

Não tonsure o frouxel

Deixe ela voar com as frouvas

Pousar nas frouças

Deixe-a absorver a essência da natureza

Seja abolicionista, desprendendo-a das correntes convencionais das páginas

Permita que ela transcenda os óbices do papel e se torne uma essência etérea

Explorando os recônditos mais íntimos da alma do leitor

Com sua alforria vai poder alforrar

Sem precisar alforfilhar-se entre o alfobre

Já é possível sentir a essência visceral do seu enxofre

Enxotá-la de sua casa quando incomodar.


 

***Estatano: Entre os Romanos, divindade tutelar das crianças que começavam a andar.

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