Por favor!
Tirem a poesia do livro
Tirem o livro do sufoco
De uma estante
Nem que seja por um instante
Tirem a poesia do livro
Risque-a nos muros
Extraia dos pulsos
Joga no universo
Nem que saiba
Um verso
Eu te peço
Por favor
Tirem a poesia do livro
Não faz sentido
Deixa-las lá
Ela quer dançar
Pintar o mundo
Em tom maior
Ela quer brilhar
Feito o sol
Voar feito borboletas
Na primavera
Ele quer viver a nova era
Fora da biblioteca
Na viela do gueto
Ela quer rachar o preconceito
De quem se veste de acadêmico
Para vomitar palavras vazias
A poesia quer falar errado
Ou melhor, desconstruir
O supostamente certo
A poesia quer ter acesso
Ao seu coração
Então por favor
Tirem-na da prisão
De um livro fechado
Danilo Lumiano
Imagem:On Going on a Journey, 2004Jonathan Wolstenholme
Metáfora canina
Ela não demonstrará entusiasmo toda vez que você chegar
Anura pós caudectomia
Ela não vai marcar território
Você pode levá-la para deambular no parque
Ela já se cansou do parquete
Não se preocupe com o parquímetro
E ao estatelar-se sob a sombra de uma árvore
Ignore a estática
Seja Estatano
Afrouxe a coleira, permita-lhe respirar
Não tonsure o frouxel
Deixe ela voar com as frouvas
Pousar nas frouças
Deixe-a absorver a essência da natureza
Seja abolicionista, desprendendo-a das correntes convencionais das páginas
Permita que ela transcenda os óbices do papel e se torne uma essência etérea
Explorando os recônditos mais íntimos da alma do leitor
Com sua alforria vai poder alforrar
Sem precisar alforfilhar-se entre o alfobre
Já é possível sentir a essência visceral do seu enxofre
Enxotá-la de sua casa quando incomodar.
***Estatano: Entre os Romanos, divindade tutelar das crianças que começavam a andar.
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