Foi assim que meu pai me disse uma vez:
Você anda feito cavalo velho, procurando grota.
As cigarras atrelavam as patas nos troncos
e zuniam com decisão os seus chiados.
As árvores cantavam no quintal,
refolhadas de novíssimo verde.
Arregacei as narinas e fui pastar
com minha cabeça minúscula.
O que mais quente e amarelo pode ser,
era o sol, um dia de pura luz.
Mugi entre as vacas, antediluviana,
sei de moitas, água que achei e bebi.
Na volta sacudi pescoço e rabo.
Só dois sinais restaram:
um modo guloso de cheirar os verdes;
um modo de pisar, só casco e pedras.
Abstrato Inabalável
Em Varanasi o mugido sacro
Ruminar uma ideia
Ubérrimo brumeiro
A pasteurização elimina totalmente a Nocárdia
E a noção do contexto
A arrelia da borrelia
Igualar-se a cicisbeia que faz a assepsia no Ganges
Entesei a guelra e fui singrar
Singular pargo
Só uma gota para se absterger do abstero
O abstrato continua ascético
Agora um pouco acético
Aceita os flagelos da existência
Deixar a metáfora desaguar em Trisul
Sobreviver em uma ilha de plástico
Reciclar a predisposição recíproca.
***poesia escrita após a oficina ministrada pela poetisa/tradutora Bruna Beber no dia 29/3/2023 na biblioteca São Paulo
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