quinta-feira, 11 de março de 2021

Reptilário Reptante

 


Répteis

Se houver tempo
devolve a poesia aos répteis,
deixa que ela se estenda ao sol
e infle os pulmões sobre as costelas
rústica, algo quebradiça
mas a bem da verdade,
inocentada desses e de outros adjetivos.
Se houver tempo
devolve os répteis aos répteis
as matas à sua filigrana
o pântano às suas poças
os mares à sua luz.
Devolve o humano ao seu
um tanto quanto ave, réptil, anfíbio
parentes há quatrocentos milhões de anos
capaz de se espraiar pelo tempo de vida
que ainda houver.
E saber que ela também se passa
de graça e à toa
enquanto estranhos fantasmas
degolam-se uns aos outros
nos subsolos dos distritos financeiros
e sempre chegam tarde para o jantar

Adriana Lisboa



Agalmatofilia


Vou doar meu prêmio jabuti para uma tartaruga solitária
Não fui na solenidade de condecoração
A ovalização por causa da ovação
Quero aplausos do silêncio
Devagar se vai ao longe
Culpo a clidarga pelo clichê
O clima subtropical
A reira pelo cágado
O cajado ajuda o rengo
Mas não o rego
Sem regras
Para aquele que rege uma metáfora
Quando tudo desanda
Troco minha cadeira por um dacito
Para exortar o desmoronamento
Degressivo que degringola
Abdico de minha lucidez
Preciso da amência
Para terminar essa poesia.

Ednei Pereira Rodrigues  

Um comentário:

Anônimo disse...

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