sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Vontade de ser vulcão



Alvéolos ínferos

obra sucata de coração imprudente fez
aquele não permitindo entre corpo
e linguagem sinal de menor cópula

pensou ocupar-se apenas do espírito
atribuindo equívocos ao corpo
e vocábulos atinados ao pensamento em repouso

mas agora o vento nos atormenta e
nos faz presentes em meio a águas imensas
imaginamos o inimigo nas redondezas

e ele sem novas da guerra sequer nos pensa
nas ondas do aqueronte opulência sicária
naked egg insensato e levado de barca

ao mais turvo lordo da bocarra do inferno
setas inúteis o vencedor agitará 
tendo em mira a sombra dos vencidos

ainda no palácio mudo de ramos e brisa
com desnecessária perícia - depelo congelado -
equipes rivais para distrair a eternidade

jogam um xadrez de dés no quadrículo interminável
uma folia de reis onde campeia o empate e
quizila sem margens jugulando talento

almas-rãs romaria serpente atada à
própria cola e às vezes à alheia
indo dar por círculos vagabundos em areia

incandescente com rastros de mais gente

 Ronald Augusto


Coliquativo




É preciso tomar cuidado,com o poema colisivo
Mantenha distância
Pode derreter a unha
O umbigo sempre foi aspirante a ser Axial
E a manhã axicarada não deixa sentir o gosto da felação
Cerâmica de revestimento
Um êxtase feldspático por causa do magma
Sua metade tadorna
Adnotar o adnominal
Fatores que influenciam o preço do petróleo
A noite líquida não respeita o sentido anti horário dos fluídos
Nem da para ficar ébrio,bebendo um litro
O suor influencia a floresta que se formou com o floretato
Sem tato
Uma pérula como peruca
Efeito colateral da quimioterapia
A lesão da pleura foi superficial
Ainda estou longe da superfície
Isso e o mais perto que consigo chegar de você.

                                             Ednei P.Rodrigues


***escrito após a leitura de medir  com as próprias mãos a febre de Ricardo Domeneck


Eu culpo minha corcunda,
me debrucei
demais sobre você,
esse foi meu primeiro
tropeço.
E ao embalo do seu colo,
notei logo tudo encavalar-se.
Fui seu contrapeso
de gangorra,
seu cavalo-de-balanço
capenga.
Eu corria as mãos
por suas ancas
fortes e moças
e sentia já nas minhas
os sintomas
do engessamento.
Você dançava
e eu me descadeirava,
eu expectorava
e o seu peito subia e descia
calmo. Escute o meu: range
feito roda de carroça.
E quando seus olhos
vagavam para fora
da janela, era
como se eu
fosse defenestrado.
Já era ele
este outro
que você buscava
longe, fora da sala
onde meu corpo
estava tão
ao seu alcance?
Em que momento
um eu
que era um
passa a ser só outro,
outro só?

RICARDO DOMENECK

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