sábado, 22 de dezembro de 2018

O que vem de dentro




Terremoto



um terremoto replicando
por vários dias,
à noite as luzes de néon paradas
e, na manhã seguinte,
a tremedeira outra vez.
você pensa que o futuro
ainda não chegou, mas
de repente o terremoto
replicando faz tremer a língua
os dentes e tudo o que é
matéria.

por mais que use as palmas
para cobrir os ouvidos,
a ternura — o que você quer dizer? —
aliás, a tremura chega
arrastando tudo.
era como um país virando mar
um terremoto replicando
sem parar. se as réplicas consistem
em tremedeiras, e se uma língua é desenhada
fora das linhas,
como conciliar o 
inconciliável?, pergunto
no momento de maior
desligamento e
ele responde:
— agora o seu wasabi
tem radioatividade.
essa cor brilhante,
de um verde quase prata,
era como a luz batendo no mar
bem na hora em que o chão —
e tudo recomeça. 

quero pedir
silêncio, mas não sei lidar
com o imponderável.
um dia acordo
e não espero
mais resposta.

                                Marília Garcia



Sismos


Pucela obesa no trem
Segurava na mão esquerda um sanduíche
Na direita sandices
Um livro de poesias 
Que lê com total blasé
Mesmo sem entender a metáfora
O significado da palavra pático
Manteve-se apática com o sofrimento
Seria mais prático se tivesse léxico 
Parti pra outra,vira a página
Sem perceber a pátina que se formou no prefácio
Tremia e não era frio,nem orgasmos da poesia obscena
Era o trem com vontade de ser sismo
Pediu ajuda para sair,descolamento de retina
Represália da metáfora,desforra da forração
O que vem de dentro é incongruente
Anátema do tema
Anástase para outro lugar.



                                            Ednei P.Rodrigues

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