A medusa de fogo
Cassiano Ricardo 1895 - 1974
A simples bulha surda
Do meu coração batendo
Poderá te acordar.
Mesmo a penugem da lua
Que cai sobre o ombro nu
Das árvores, tão de leve,
Poderá te acordar.
A simples caída da bolha
D'água sobre a folha,
Por ser fria como a neve,
Poderá te acordar.
Só porque a rosa lembra
Um grito vermelho,
Retiro-a de diante do espelho
Porque — de tão rubra —
Poderá te acordar.
E se nasce a manhã
Calço-lhe logo pés de lã,
Porque ela, com seus pássaros,
Poderá te acordar.
Mesmo o meu maior silêncio,
O meu mudo pé-ante-pé,
De tão mudo que é,
Não irá te acordar?
Ó medusa de fogo,
Conserva-te dormida.
Com o teu fogo ruivo e meu,
Qual monstruosa ferida.
Como data esquecida.
Como aranha escondida
Num ângulo da parede.
Como rima água-marinha
Que morreu de sede.
E eu serei tão breve
Que, um dia, deixarei
Também, até de respirar,
Para não te acordar.
ó medusa de fogo,
Dormida sob a neve!
Cassiano Ricardo 1895 - 1974
A simples bulha surda
Do meu coração batendo
Poderá te acordar.
Mesmo a penugem da lua
Que cai sobre o ombro nu
Das árvores, tão de leve,
Poderá te acordar.
A simples caída da bolha
D'água sobre a folha,
Por ser fria como a neve,
Poderá te acordar.
Só porque a rosa lembra
Um grito vermelho,
Retiro-a de diante do espelho
Porque — de tão rubra —
Poderá te acordar.
E se nasce a manhã
Calço-lhe logo pés de lã,
Porque ela, com seus pássaros,
Poderá te acordar.
Mesmo o meu maior silêncio,
O meu mudo pé-ante-pé,
De tão mudo que é,
Não irá te acordar?
Ó medusa de fogo,
Conserva-te dormida.
Com o teu fogo ruivo e meu,
Qual monstruosa ferida.
Como data esquecida.
Como aranha escondida
Num ângulo da parede.
Como rima água-marinha
Que morreu de sede.
E eu serei tão breve
Que, um dia, deixarei
Também, até de respirar,
Para não te acordar.
ó medusa de fogo,
Dormida sob a neve!
A Vingança da Pedra
Ednei Pereira Rodrigues
Perônio Persente o Perverso Perseu
Perpétuo perpianho estranho
Micela Micante de Micenas
Meu Niilismo para o seu Materialismo
Apetece pela planície de Cistene
Ofereço-lhe uma Cisterna
Não aceita uma eclusa como escusa
Nem minha Urolitíase por sua litolatria
Réprobo de noma por sua nolição de nonadas
Precito a ser puteal de pústula pusilânime
Sem alforria da alforreca
Ofensa aos Ofídios,meu cafuné fúnebre de ofito
Carícia de Carrara incomoda quando queria o orgasmo
Estrênuo quartzo enfrenta o estrepe da Urutu
Ingênuo gabro contra a sisudez da sistruro
Franja de Naja feri como navalha
Naga nagaica como nagalho não te sufoca
Trunfa de ibioca adorna sua alopecia
Mucronado Topete de Muçurana contunde
Sucuri como se fosse um bisturi machuca
Arcara ao carcará a responsabilidade de seus atos.
Perônio Persente o Perverso Perseu
Perpétuo perpianho estranho
Micela Micante de Micenas
Meu Niilismo para o seu Materialismo
Apetece pela planície de Cistene
Ofereço-lhe uma Cisterna
Não aceita uma eclusa como escusa
Nem minha Urolitíase por sua litolatria
Réprobo de noma por sua nolição de nonadas
Precito a ser puteal de pústula pusilânime
Sem alforria da alforreca
Ofensa aos Ofídios,meu cafuné fúnebre de ofito
Carícia de Carrara incomoda quando queria o orgasmo
Estrênuo quartzo enfrenta o estrepe da Urutu
Ingênuo gabro contra a sisudez da sistruro
Franja de Naja feri como navalha
Naga nagaica como nagalho não te sufoca
Trunfa de ibioca adorna sua alopecia
Mucronado Topete de Muçurana contunde
Sucuri como se fosse um bisturi machuca
Arcara ao carcará a responsabilidade de seus atos.
Glossário:
Perseu algumas vezes grafado como Perseus (em grego moderno: Περσέας), é um dos mais célebres personagens da mitologia grega, heróisemideus conhecido por ser fundador da míticacidade-estado de Micenas, irmão de Hércules e patrono tanto da Casa Real de Perseu como da Dinastia Persênica, tendo sido ancestral, segunda a mitologia, dos imperadores da Pérsia. Famoso por ter decapitado a górgona Medusa, monstro que transformava em pedra qualquer um que olhasse em seus olhos.[Nota 1] Como um semideus, Perseu era filho de Zeus, que sob a forma de uma chuva de ouro, introduziu-se na torre de bronze e engravidou sua mãe, a mortal Dânae[Nota 2] , filha de Acrísio, rei de Argos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Perseu
perpianho,gabro:pedra
Micela:Cada uma das partículas que se encontram em suspensão nas soluções coloidais, vivas ou inertes, formadas por agregados de moléculas.
eclusa:Obra de alvenaria que, munida de comportas, forma uma câmara destinada a tornar navegável um curso de água.
Urolitíase:pedra no rim
Perseu algumas vezes grafado como Perseus (em grego moderno: Περσέας), é um dos mais célebres personagens da mitologia grega, heróisemideus conhecido por ser fundador da míticacidade-estado de Micenas, irmão de Hércules e patrono tanto da Casa Real de Perseu como da Dinastia Persênica, tendo sido ancestral, segunda a mitologia, dos imperadores da Pérsia. Famoso por ter decapitado a górgona Medusa, monstro que transformava em pedra qualquer um que olhasse em seus olhos.[Nota 1] Como um semideus, Perseu era filho de Zeus, que sob a forma de uma chuva de ouro, introduziu-se na torre de bronze e engravidou sua mãe, a mortal Dânae[Nota 2] , filha de Acrísio, rei de Argos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Perseu
perpianho,gabro:pedra
Micela:Cada uma das partículas que se encontram em suspensão nas soluções coloidais, vivas ou inertes, formadas por agregados de moléculas.
eclusa:Obra de alvenaria que, munida de comportas, forma uma câmara destinada a tornar navegável um curso de água.
Urolitíase:pedra no rim
litolaria:culto a pedra
Réprobo,precito:condenado
noma: gangrena na boca
nolição:negação
nonadas:bagatelas
puteal:muro de pedra
alforreca:medusa
ofito: mármore verde com manchas amarelas, que tem aspecto de pele de cobra.
carrara:mármore branco
urutu,sistruru,naga,ibioca,muçurana:cobras
nagaica :chicote
nagalho:lenço de pescoço
trunfa: Cabelo abundante e desgrenhado.
mucronado:tudo aquilo que termina em ponta aguda e afiada.
nolição:negação
nonadas:bagatelas
puteal:muro de pedra
alforreca:medusa
ofito: mármore verde com manchas amarelas, que tem aspecto de pele de cobra.
carrara:mármore branco
urutu,sistruru,naga,ibioca,muçurana:cobras
nagaica :chicote
nagalho:lenço de pescoço
trunfa: Cabelo abundante e desgrenhado.
mucronado:tudo aquilo que termina em ponta aguda e afiada.
MEDUSA
SYLVIA PLATH
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo (do livro Ariel, a sair pela Verus Editora)
Longe dessa península de bocais pétreos,
Olhos revirados por varetas brancas,
Orelhas absorvendo as incoerências marinhas,
Você abriga sua cabeça débil — globo de Deus,
Lente de piedades,
Seus parasitas
Oferecem suas células selvagens à sombra de minha quilha,
Empurrando como corações,
Estigmas vermelhos bem no centro,
Cavalgando a contracorrente até o ponto de partida mais próximo.
Arrastando seus cabelos de Jesus.
Escapei, me pergunto?
Minha mente sopra até você
Umbigo de velhos mariscos, cabo Atlântico,
Se mantendo, parece, em estado de milagrosa conservação.
Em todo caso, você está sempre ali,
Respiração trêmula no fim da minha linha,
Curva d’água pulando
Em meu caniço, ofuscante e agradecida,
Tocando e sugando.
Não chamei você.
Não chamei você mesmo.
No entanto, no entanto
Você veio a vapor em minha direção,
Obesa e vermelha, uma placenta
Paralisando amantes impetuososos.
Luz de naja
Espremendo o hálito das rubras campânulas
Da fúcsia. Sem poder respirar,
Morta e sem dinheiro,
Superexposta, como num raio-x.
Quem você pensa que é?
Hóstia de comunhão? Maria Carpideira?
Não vou tirar nenhum pedaço desse seu corpo,
Garrafa aonde vivo,
Vaticano espectral.
O sal quente me mata de enjôo.
Imaturos como eunucos, seus desejos
Sibilam para meus pecados.
Fora, fora, coleante tentáculo!
Não há mais nada entre nós.
Orelhas absorvendo as incoerências marinhas,
Você abriga sua cabeça débil — globo de Deus,
Lente de piedades,
Seus parasitas
Oferecem suas células selvagens à sombra de minha quilha,
Empurrando como corações,
Estigmas vermelhos bem no centro,
Cavalgando a contracorrente até o ponto de partida mais próximo.
Arrastando seus cabelos de Jesus.
Escapei, me pergunto?
Minha mente sopra até você
Umbigo de velhos mariscos, cabo Atlântico,
Se mantendo, parece, em estado de milagrosa conservação.
Em todo caso, você está sempre ali,
Respiração trêmula no fim da minha linha,
Curva d’água pulando
Em meu caniço, ofuscante e agradecida,
Tocando e sugando.
Não chamei você.
Não chamei você mesmo.
No entanto, no entanto
Você veio a vapor em minha direção,
Obesa e vermelha, uma placenta
Paralisando amantes impetuososos.
Luz de naja
Espremendo o hálito das rubras campânulas
Da fúcsia. Sem poder respirar,
Morta e sem dinheiro,
Superexposta, como num raio-x.
Quem você pensa que é?
Hóstia de comunhão? Maria Carpideira?
Não vou tirar nenhum pedaço desse seu corpo,
Garrafa aonde vivo,
Vaticano espectral.
O sal quente me mata de enjôo.
Imaturos como eunucos, seus desejos
Sibilam para meus pecados.
Fora, fora, coleante tentáculo!
Não há mais nada entre nós.
O silêncio da Medusa
Renata Bomfim
A pedra retribui o carinho
do olhar.
Os lábios fixos ocultam
um jogo erótico.
Medusa sorri.
A dureza dissimulada
do homem de carrara,
denuncia o gozo contido,
de um coração que pulsa
apenas na intenção.
O organismo complexo e fértil
torna-se acessível:
heras brotam de suas narinas.
O jardim da caluniada Medusa
guarda
exemplares singulares:
seu tesouro!
seu orgulho!
Machos exemplares,
rijos como o amor
que lhe dedicam.
Incompreendida, só,
mal vista e mal dita,
Medusa guarda silêncio,
já não necessita das palavras:
A pedra é consolo e guarita.
do olhar.
Os lábios fixos ocultam
um jogo erótico.
Medusa sorri.
A dureza dissimulada
do homem de carrara,
denuncia o gozo contido,
de um coração que pulsa
apenas na intenção.
O organismo complexo e fértil
torna-se acessível:
heras brotam de suas narinas.
O jardim da caluniada Medusa
guarda
exemplares singulares:
seu tesouro!
seu orgulho!
Machos exemplares,
rijos como o amor
que lhe dedicam.
Incompreendida, só,
mal vista e mal dita,
Medusa guarda silêncio,
já não necessita das palavras:
A pedra é consolo e guarita.
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