sexta-feira, 12 de junho de 2015

Insultos Poéticos

Burca
Raquel Naveira

Há uma mulher por dentro da burca,
Estranha veste que envolve o corpo
Como um capuz,
Um casulo,
Um enorme grão.

A mulher por dentro da burca
Espia o mundo
Por uma janela quadriculada,
Vê sem ser vista,
Boca calada.

A mulher por dentro da burca
Busca a estrada,
A repisada trilha dos camelos
Rumo ao oásis,
Mas seu caminho se bifurca
Entre o amor e a morte.

A mulher por dentro da burca
É vulcão,
Em suas mãos,
Em sua nuca,
Escorre larva quente;
Gota de fogo é o seu coração.

A mulher por dentro da burca
Tem algo de verme,
De serpente,
De pássaro,
É feita de neblina
A sua face triste.

Por dentro da burca
O medo sufoca,
A mulher segue a procissão
Com passos lentos,
Não permaneceria imóvel
Assistindo a procissão passar.

Por dentro da burca
A opressão enforca,
A mulher,
De costas viradas ao sol,
Enxerga sua sombra.

Por dentro da burca
A louca caminha pela praia,
A maré alta apagará suas pegadas.

A burca azulada como o céu
Torna a mulher
Invisível.


Pintura Abstrata Mulher Na Praia Pintor Picasso

Topless
Ednei Pereira Rodrigues

Muxiba de fuampa nutre a sarjeta
Tibira espargi o quefir quente
O lamento materno do armento para montear
O garraio rogaria o roído?
Tapichi chia chibante
Pirera do ástomo silente
A telite aboral do sórdido
Veste está Burca para ser Huri
O Xador como adorno do abjeto
O Nicabe mirra seu padrão de xibimba
Rorqual Roreja a Ronha
Rongó Ronda o Rossio
O Hijab oculta a sua Hibridez
O Véu Veda sua Vetustez
O saporé áspero do decrépito
Queba Quebra o Quebro
Máscara com a pogoníase de cébida
Ursídeo resíduo do liso
Appalousa sem apalpos relincha
A estética do estigma na face.

Glossário:

Muxiba&Pirera:Carne magra, que se dá aos cães.
Pop. Pele magra; pelanca, carne mole e caída.
Seios flácidos.
Fuampa&Rongó:Prostituta, meretriz.
 Tibira:Vaca, que dá pouco leite.
Quefir : Leite fermentado com sementes e que apresenta a mesma consistência da nata. (É originário da Tartária e do Cáucaso e usado como alimento e digestivo.)
Armento: Rebanho de gado vacum. 
Garraio&tapichi: Bezerro.
chibante:valente
ástomo:sem boca
Telite:Inflamação do bico do seio.
aboral;longe da boca.
Huri: Mulher belíssima que o Corão promete ao fiel muçulmano na vida futura.
Mulher muito formosa.
Xador: Tipo de veste feminina usada no Irã e que cobre da cabeça até os tornozelos, deixando descobertos apenas os olhos.
Nicabe: véu que cobre o rosto e só revela os olhos.
xibimba:pessoa obesa.
rorqual:baleia
Rorejar:v.t. Orvalhar.Banhar em gotas como o orvalho
Ronha:sarna.
Róssio:praça
saporé:bolor
queba:velho
Pogoníase:Desenvolvimento de barba em uma mulher.Crescimento excessivo da barba.
Appalousa:raça de cavalo





O torso arcaico de Apolo
Rainer Maria Rilke
(Tradução: Paulo Quintela)

Não conhecemos sua cabeça inaudita
Onde as pupilas amadureciam. Mas
Seu torso brilha ainda como um candelabro
No qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado

Detém-se e brilha. Do contrário não poderia
Seu mamilo cegar-te e nem à leve curva
Dos rins poderia chegar um sorriso
Até aquele centro, donde o sexo pendia.

De outro modo erger-se-ia esta pedra breve e mutilada
Sob a queda translúcida dos ombros.
E não tremeria assim, como pele selvagem.

E nem explodiria para além de todas as fronteiras
Tal como uma estrela. Pois nela não há lugar
Que não te mire: precisas mudar de vida.

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