sábado, 27 de junho de 2015

Mais do Mesmo



Notícia Poética:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1639604-cemiterio-no-jardim-angela-recebe-esculturas-e-vira-espaco-de-lazer.shtml




 Quando a erva crescer em cima da minha sepultura,
Seja este o sinal para me esquecerem de todo.
A Natureza nunca se recorda, e por isso é bela.
E se tiverem a necessidade doentia de "interpretar" a erva verde
sobre a minha sepultura,
Digam que eu continuo a verdecer e a ser natural.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterônimo de Fernando Pessoa

 Niilismo
Ednei Pereira Rodrigues
 
Deixa a eixa ser sua madeixa
Peruca de eruca até a nuca
Não se queixa por não ter o eixe
Recuso os recuos do escuro
O peixe também não viu o feixe
Ainda tem o queixo
Quando tudo está fora do eixo
Seu cabedal cabe no cabide
O crepe envolto da prece
Sobre a estrepe
O arbim no jardim se enrola entre as flores
Riqueza com a queza que viceja
O pluto do plural de tudo que se multiplica
O potosi do sopito são os sonhos
Divícia vicia sem ciar
Recuar por causa da cruera
O curare não cura a curva
A culpa do cuíra alípede
Descansa a ansa da ânsia
O repouso para repor o perro.
 
   Glossário:
Eixa&eruca:ervas
eixe:interj Exclamação usada pelos boiadeiros para estimular animais tocados.
cabedal: Acumulação de coisas de valor; capital; bens; riqueza; dinheiro.
crepe&arbim:Fita ou tecido negro que se usa em sinal de luto.
Queza:arbusto
Pluto,potosi&Divícia:riqueza
ciar:remar em sentido contrário
cruera:doença
curare:veneno
cuíra:Impaciência
perro:teimosia


Morte é só vida de trás pra frente

Lou Albergaria, poeta, autora de O Cogumelo que nasceu na bosta profana, que trago aqui todas terças-feiras e que escreve, diariamente no StriPalavras

 Se pensas ver a morte
Como te enganas.
Os olhos nos enganam
Ainda mais
Quando só sabemos olhar
Com razão.
O real muitas vezes é apenas ficção
Uma realidade criada
Por algum espelho
Côncavo ou convexo
Na retina da alma
A imagem se faz trocada
Invertida,
Por isso, transfigura e assombra.
Tantas cores vivas
Não ornamentam a morte.
É só a vida que pulsa
Vibra, agita
Nutre de seiva
Flores, insetos
Beijos…
Um jardim de delícias!
Cismaram, entretanto, colocar um espelho
Bem à nossa frente
E estamos vendo ao contrário.
Só isso.
Não te exasperes, amável amigo,
vou retirar o espelho
Para que possas me ver melhor.

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