quinta-feira, 21 de maio de 2015

Pirofagia



 Minha Culpa

Florbela Espanca

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...



Fogo Fátuo

Ednei Pereira Rodrigues

A ignição foi o ósculo
Antes ocluso no beiço
É óbice é coíbe o coito
O labro como candelabro
Fazer amálgama
Galivar com o galvanismo
A erecção do ceráceo
Marzapo como básculo
Cazzo que nunca da azo aos sentimentos
Catano como acanto origina a octana
O basalto dessa basorexia
Amásio do básio sábio
O basilisco do desejo
O básico da alquimia
Acoplar o módulo ao nódulo
Febo quadrado não elucida o triângulo
Não candeia essa cadeia
O facho do seu pachacho
Crica que cresta
Contínuo Lúrido.




Glossário:Fogo Fátuo
Fogo-fátuo (do latim i̅gnis fatuus), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fogo-f%C3%A1tuo
Galivar: Tornar apropriado; dar configuração própria. 
galvanismo: (do nome do físico italiano Galvani) Ação das correntes elétricas contínuas sobre os órgãos vivos.
ceráceo:Semelhante à cera na aparência e na consistência.
básculo:Ponte levadiça contrabalançada.
acanto:Adorno cujo aspecto se assemelha à folha de algumas espécies de acanto, geralmente, utilizado em decorações dos mais variados estilos arquitetônicos. 
octana:Febre.
basalto:Rocha vulcânica.
basorexia:Vontade incontrolável de beijar.
basilisco: Monstro fabuloso (lagarto ou serpente) saído de um ovo posto por um galo e chocado por um sapo, monstro a que a lenda atribuía o poder de matar com a vista ou o bafo.
 



 Perdas e Danos

Lêdo Ivo

Quem dorme perde a noite.
Foge da eternidade,
candelabro cativo
na escuridão do céu.

Quem dorme perde o amor,
a vigília madura
da carne que se sonha
a si mesma acordada.

Quem dorme perde a morte
que respira escondida
como a lebre no bosque.

Quem dorme perde tudo
que o acaso deposita
na mesa do universo.

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