quarta-feira, 8 de abril de 2015

Relatos do rastelho

 Notícia Poética:http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1613087-joao-paulo-cunha-lanca-livro-de-poemas-escrito-na-prisao.shtml
  


Cárcere das almas 
Cruz e Souza


Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?! 


 
 Cerca Viva

Ednei Pereira Rodrigues

A sebe não é para a plebe
Percebe o azerbe
O azerve não enerve a verve
O estralo do
rastelo

Agrilhoar o olhar
Adoba que doba
Dobra e vira adorno
Adubo para o vazio
Difícil aducir a metáfora
A analdia aduziu-o a tempos de outrora
Algema para a alagem
O pulso sem pulos
O parco para o carpo
O conde condenado
Reproduz o réprobo
A precisão do precito
Condicional para o condor.



Glossário:

sebe:Cerca de varas ou ripas entrelaçadas.
Sebe viva, cerca feita com arbustos; o mesmo que cerca viva.
azerbe,azerve :cerca
rastelo:espécie de grade.
Agrilhoar:prender
Adoba :corrente
doba:enrolar
aducir:Tornar flexível, abrandar, amaciar (um metal).
alagem:subir
réprobo, precito:condenado




O CONDENADO

Augusto dos Anjos
Eu e outras poesias, 1920


Alma feita somente de granito,
Condenada a sofrer cruel tortura
Pela rua sombria d'amargura
- Ei-lo que passa - réprobo maldito.

Olhar ao chão cravado e sempre fito,
Parece contemplar a sepultura
Das suas ilusões que a desventura
Desfez em pó no hórrido delito.

E, à cruz da expiação subindo mudo,
A vida a lhe fugir já sente prestes
Quando ao golpe do algoz, calou-se tudo.

O mundo é um sepulcro de tristeza.
Ali, por entre matas de ciprestes,
Folga a justiça e geme a natureza.

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