sábado, 25 de abril de 2015

Excesso de Contingente

   
Claustrofobia


João Carlos, 1970 – 2003.


Todos os sorrisos e farpas
de um homem na abscissa do tempo.


Cada gesto mínimo e mesmo
a explosão, outrora, de um músculo
no vazio abafado entre dois números.


E, assim, enterramos nossos mortos: espremendo.


Qual os objetos,
apertando-os para serem mais portáveis
e não gritarem para os vivos o escuro
do escuro-túmulo.


Daí eu me pergunto: Não parece castigo
colocar as datas na vida, quando a morte
já luta por espaço no esquife e, mais tarde,
pelo corpo contra os fungos?








Roleta Russa


Ednei Pereira Rodrigues



Garoa no Gare

Encontro Controverso

Imerso em outro universo

Empurra é depois urra

Faço minha mochila de escudo

Defesa contra a pressa

É um fluxo constante

Átimo ignorado

Eu como intérprete da torniquete

A catraca provoca uma catástrofe

Rente à Renque

A fila sibila

Um abismo se abre no vão entre o trem e a plataforma

O lacuteio para suprir está lacuna

Mais confronto do que conforto

Aperta a pétala

Cingir Cinquenta

Espremer o Espírito

Sem espaço para a Claustrofobia .


 

Claustrofobia do silêncio

Tony Saunier


Não posso ficar assim
Não devo ficar assim
Há um intervalo lá fora
Suprimido em mim
Há um domingo de pedras faiscantes
Um sol de limo em meu coração
E uma vontade infantil
Que desassossega e trai

Quando digo que não vou
Quando digo que não quero
Quando afugento o que voltou
Mas que de ti, eu sempre espero

Invento sutilezas que nos acalentem
Confissões? Já foram muitas, em cubículo escuro
Mas eu tenho saudade da primavera
Dessa grande primavera que nos visita de vez em quando:
Centelha de girassóis

Desculpa, amor, (des)culpa
Mas eu tenho uma navalha
Rosas vermelhas, cortinas esvoaçantes
E meu travesseiro é um bordô orvalhado

Sorvo o gosto agridoce da carne
E o vinho mais frugal, sedento e só
E te confesso abertamente
Sob a imaginação que te procura
Na espera que me sigas
Que sofro desse mal metrificante:
Claustrofobia do silêncio.

Nenhum comentário: