Linha de Produção
Ednei Pereira Rodrigues
Inveja os invertebrados a prensa
A invenção com a inversão
Em desuso desuni
Abuso do confuso
A falência múltipla dos órgãos
Ainda pensa o poeta
Mesmo depois da dispensa
O vácuo da despensa
Digerir o que digito
A bancarrota arrota
A fome do pronome
A inópia do inovador
O arrocho do arroubo
O atroz arroz engasga
O feijão feérico
Um Epicúrio murmúrio antes da epidemia
A molécula gula
A frase engatilhada
Engarrafada a mensagem do náufrago
O segredo do torpedo.
Glossário:
prensa: Máquina manual ou mecânica para comprimir uma coisa entre as suas duas peças principais.
bancarrota:Falência
Inópia:escassez
Atroz:Cruel
Arrocho:apertar
Feérico: Que faz parte de um mundo de fantasia.
Epicúrio:prazer exagerado
A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.
Fernando Pessoa
O Náufrago
Ednei Pereira Rodrigues
Nocaute
O leiaute sem lei chasqueia o bardo
Sem barco
Perdeu o leme
Encontrou leminski
Glabro,a escuma marinha
Debuxou um bigode
Migalhas de gaias
Agora só falta uma razão para escrever
Indispensável Individualismo
Social ao soçobro
Recobro a solidão
Talvez o rasgo
A rasura é o meu rastro
Limalha de canalha
Algum indício do indigente
Dínico do Índico
A oura que vale ouro
A apsiquia do apside
Vide áspide.
Glossário:
bardo:poeta
Glabro:sem barba
escuma:espuma
Gaias:Redemoinho de pêlos no peito do cavalo.
soçobro:Naufrágio
Limalha:Partículas de metal produzidas pela fricção da lima: limalha de ferro
Dínico,oura e apsiquia:vertigem
apside: O ponto da órbita extremo do eixo maior da elipse, em que um planeta ou satélite se acha mais perto ou mais longe do centro.
Linha das apsides, o diâmetro maior da órbita.
Áspide: espécie de víbora(cobra)
O NÁUFRAGO NÁUGRAFO
Paulo Leminski
a letra A a
funda no A
tlântico
e pacífico com
templo a luta
entre a rápida letra
e o oceano
lento
assim
fundo e me afundo
de todos os náufragos
náugrafo
o náufrago
mais
profundo
Cada poema é uma garrafa de náufrago jogada às águas... Quem a encontra, salva-se a si mesmo.
Mario Quintana
Poema de sete faces
De Alguma poesia (1930) Carlos Drummond de Andrade
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
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