terça-feira, 31 de outubro de 2023

Epílogo poético

 Monólogo de um hidrante


 Tentaram me afogar outra vez e o motivo: incêndio. Pelo menos dessa vez foi um motivo justo, não foi vandalismo inconsequente de jovens que só querem diversão e alívio do calor. Vingança por terem desligado o chafariz, na chafeira que tudo se encontra. Talvez houvesse uma maneira de promover um entendimento mais profundo entre os seres humanos e eu. Talvez pudesse promover a conscientização sobre a importância da água e do uso responsável desse recurso essencial. Eu tinha potencial para servir como um catalisador para mudanças positivas na mentalidade da comunidade. Percebi que minha presença como um símbolo de consciência ambiental estava impactando as pessoas. Crianças olhavam para mim com curiosidade, enquanto adultos reconheciam o valor da água. A água que eu distribuía era muito mais do que um recurso; era um símbolo da vida, da necessidade de respeitar a natureza e de usar a água de maneira consciente. Todo esse mar estagnado sendo expelido, o esguicho esguio acerta o nicho e me sinto um gêiser, pretensão apenas de não depender de mãos humanas para o ímpeto. Sucedâneo onanismo quando a infertilidade é predominante invejo o teu deserto de dentro. Esparzir sem espasmo, toda espasticidade é premeditada na premência do cáustico. Sim, vai tudo evaporar, não se preocupe com as poças, rastro para o tarso me encontrar. Toda indolência te deixa frustrado. Vão emergir dos charcos, resquícios de mim.

 

imagem:bituca de cigarro em poça de água:Andrea Colarieti


 



Inócuo tabagismo




Não tenho vícios

Não vou exagerar

A ausência de pulmão não é subterfúgio

Minha única dependência e pelo depérdito

Depauperar arredores

Deparável com o podálico

Não vou tossir está noite

Engasgar com o engástrio.


                                                                           EPR

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