sábado, 27 de março de 2021

Arável Arvela

                                    

Efemeridades

Hoje plantei melancias
Melancolia era adubo
Melanêmese da noite que ingeri
Foi penetrando através dos poros
Não tinha reparado o melântemo ao redor
Cumarina para Acuminar
E a melanúria não servia para rorejar
O prefixo era dúlcido
Mas o conteúdo acerbo
Espero que a colheita seja profícua
A metáfora está famélica
Talvez seja falta de cálcio
O intestino não absorveu o zinco
Capacidade cognitiva pusilânime
Aprovado por decisão unânime
O silêncio.


Ednei Pereira Rodrigues


***A cumarina presente na camomila(melântemo )potencializa o efeito de medicamentos anticoagulantes, como a varfarina, aumentando o risco de hemorragias internas e levando a graves complicações. Além disso, o pólen encontrado em certos preparados de camomila podem desencadear reações alérgicas em alguns indivíduos.

sábado, 20 de março de 2021

Anagramas do ínfimo


O VERME E A ESTRELA

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?

PEDRO KILKERRY




Nobilitar o labirinto

Tens um pouco de verme
Todos nós temos
Depois com toda empáfia
Nobilitar o labirinto

Ascoitar o asco
E o ascoma no remo
Permitiu uma viagem mais longa
O Mar não permitiu a libido

Tens um pouco de Priapulida
Pelo que não foi polido
Vernizar toda Vernizeira
A polidez do polídimo

Já pode ser político
Déspota de um leixão
Foi a leixa da metáfora
Proselitismo não aceito

Objeto de admiração e ojeriza
Ela é um poderoso argumento de marketing
E, ao mesmo tempo, uma fonte de desconfiança e repressão preventiva
Tens o logro

Já que é servo do verso
Lacaio do lacanhal
Sabujo do arujo
Vassalo do vasto

Não podia se esperar muito
De uma estrela prestes a explodir
Não sou exigente
Só queria um vislumbre.

                            EPR


O DEUS-VERME

Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

AUGUSTO DOS ANJOS

quinta-feira, 11 de março de 2021

Reptilário Reptante

 


Répteis

Se houver tempo
devolve a poesia aos répteis,
deixa que ela se estenda ao sol
e infle os pulmões sobre as costelas
rústica, algo quebradiça
mas a bem da verdade,
inocentada desses e de outros adjetivos.
Se houver tempo
devolve os répteis aos répteis
as matas à sua filigrana
o pântano às suas poças
os mares à sua luz.
Devolve o humano ao seu
um tanto quanto ave, réptil, anfíbio
parentes há quatrocentos milhões de anos
capaz de se espraiar pelo tempo de vida
que ainda houver.
E saber que ela também se passa
de graça e à toa
enquanto estranhos fantasmas
degolam-se uns aos outros
nos subsolos dos distritos financeiros
e sempre chegam tarde para o jantar

Adriana Lisboa



Agalmatofilia


Vou doar meu prêmio jabuti para uma tartaruga solitária
Não fui na solenidade de condecoração
A ovalização por causa da ovação
Quero aplausos do silêncio
Devagar se vai ao longe
Culpo a clidarga pelo clichê
O clima subtropical
A reira pelo cágado
O cajado ajuda o rengo
Mas não o rego
Sem regras
Para aquele que rege uma metáfora
Quando tudo desanda
Troco minha cadeira por um dacito
Para exortar o desmoronamento
Degressivo que degringola
Abdico de minha lucidez
Preciso da amência
Para terminar essa poesia.

Ednei Pereira Rodrigues