sábado, 11 de dezembro de 2021

Associações impertinentes: A parede, a metáfora e a janela


Anagramas entômicos

Melhora com o melga

Emolhar até emolir o irascível

Albificar o Ficalbia

Ninguém fica estático durante a ressonância

Limagem do Limatus

Fósseis Entômicos

Entonar o entornado

Difícil respirar pela frincha

Fresta de aresta

Escoa da moldura uma listra bege

Invídia do inviável

Invicção pelo ínvio

Vida que segue

Acolitar jaças

O jaçanã pela janela

A metáfora como rebo

Quebra o vítreo.


                                                        EPR






MANCHAS NA PAREDE

Antes que caia a noite total
havemos de estudar as manchas na parede:
umas parecem plantas
outras assemelham-se a animais mitológicos.

Hipogrifos,
dragões,
salamandras.

Mas as mais misteriosas de todas
são as que parecem explosões atómicas.

No cinema da parede
a alma vê o que o corpo não vê:
homens ajoelhados
mães com criaturas nos braços
monumentos equestres
sacerdotes erguendo a hóstia:

órgãos genitais que se ajuntam.

Mas as mais extraordinárias de todas
são
sem dúvida alguma
as que parecem explosões atómicas.

Nicanor Parra

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Descrição de imagem


 

A equidade dos equídeos


Seu probóscide sorve a lágrima

Impõe um regozijo inexistente

Poderia causar seu exício

Fechando a pálpebra

Cílio como utensílio

Arrostar o ínfimo

Cuidado com a nictação

A equidade dos equídeos

Introduz o catrapus na inércia do dia

O nitro contra o silêncio

Mostra que a metáfora continua indomável

Insurgente Insumo

Ao coicear coincidências

Exigir o lídimo

Sinequia de uma sinergia imponente

Aderência da íris com a metáfora.


                                                           EPR

sábado, 2 de outubro de 2021

A epífise da metáfora


IMPOSSÍVEL SENTAR-SE DIANTE DE TANTAS CADEIRAS


que aguardam o momento

em que serão úteis

as costas espalmadas são pacientes

podem ficar para sempre na espera

os pés das cadeiras quando tombam

apontam para cima

são insetos de casca redonda

que não desviram sozinhos.


                                          Alice SantAnna




Sem escólio para a escoliose

Não quero nenhum análise de minha nalga
Pode sentir o estiramento da coxa
A anquilose do quadril
A cesura do sartório
A diástase do ílio
A epífise da metáfora
Condicente côndilo
Antes acelifo
Sem glifo do cifo
Lapidar da giba a gibbsita
Sem ostentação da osteíte púbica
Roçar o ísquio no tábido
Pode escarafunchar a escara
Escrutinar a escrófula
Sem escólio para a escoliose
Prumar a inércia
Não esmorecer ante as vicissitudes.

                                                         EPR

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Anagramas hipocondríacos

 



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o que acabaria
com a dor
com a ferida
com o dia

espelhinhos por tesouros
iluminações nas entrelinhas
varandas para o nada


acabaria o dia assim
do nada
mais um dia assassinado


feito e finado
a sina não tem nada de limpa
o olhar nas ondas e a espuma branca no copo de cerveja


a ferida fincou
no chakra raiz
da hérnia dessa lida


no que me acabaria
na luz matutina, nos olhos no oceano
na virada do sonho à vigília


lá fora uma brisa boa
aqui dentro o calor do dia
o presente se faz enfeite


regalo de D’us
plataforma do sonho
abrigo do infinito


acabaria sem saber
onde porque e como
a  janta servida



abrigo de mim
acabaria
cantando pra ti



Rodrigo uriartt



Descarte inapropriado de refugos


Não sei se quero a cura
Convalescença com convalamarina
A curadoria é da solidão
O curanchim de japim que se formou
Semeia-se em um jardim onde rapidamente produz a autodisseminação
Está metáfora está imbuída em curare
E não se podia recuar
Diante da cruera
Cruelmente cruentar arredores
Safenar um coração que já parou
Deixando tudo sáfeo
O fluxo sanguíneo foi restabelecido
A posição vertical da curva está diretamente relacionada com a concentração de pigmento
Pigmeus estão por perto
Eles sabem como rastrear uma metáfora
Pigro sigro
Para se esquecer.

                                                    EPR



Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Paulo Leminski

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Menear a Menencoria

                           

imagem:mão da poetisa Noi Soul


Cinestesia



Simples aceno
Espero o cumprimento
Muito depende do comprimento da extensão
Seu corpo é comprimido lateralmente no contorno circular
Contorce o Contínuo
Braço lasso
Um higroma no cotovelo
Arpoar com o carpo
Mão láparo
Ás vezes pássaro
Pato apto ao patível
Cairina febrífugo
Podemos interagir por gestos
Menear a Menencoria
Corria se não fosse a inércia
Corria-se risco de introduzir elementos de desordem
Seguir estritamente a coreografia
Quando a metáfora é dedilhável
A unha faz cócegas
Queratinização da querela.

EPR





Manibus

Crio a vida
Manibus
Rogo a Deus
Manibus
Ergo a face
Manibus
Sonhos meus

As linhas que brincam
Nas manus
O sangue que (es)corre
Nas manus
As dores que deitam
Nas manus
O tempo que morre
Nas manus

Ela conduz o meu corpo
Dança o que a alma sente
Ela que esconde o meu rosto
Sorve o mundo inclemente

Manibus
Crio a face
Manibus
Rogo à vida
Manibus
Ergo a Deus
Manibus
Sonhos meus 

Noi Soul 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Metáfora submersa

Para voltar ao princípio do mundo 

sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor
sei que os lavava ao luar

porque tinha no coração uma corola
para voltar ao princípio do mundo

com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento

era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte

um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar

e disse: tece-me

e o mar inclinou-se para dentro
para tecer

o poema.

Maria Azenha



A Forma da água


O Mar que circunda a casa
Oferece aos habitantes o sustento ictío
Pensava que era algum tipo de divindade
Quando faziam a circunflexão
Para retirar parte do seu corpo
Era arrogante é narcisista
Via o reflexo de sua beleza nos olhos de quem se curvava
Só reparou na venustidade da pucela que ali morava
Na hora da ablução
Conheceu assim todas as suas cavidades
A dileção sem dilema
Deixou um pargo dilépido
Toda prosápia da tilápia
Foi assim que a fecundou
Só esperar 9 meses agora para nascer algo hidrópico
Houve uma infestação
Todos que ali moravam pegaram piolhos
A lêndea tinha que entrar para a lenda
Sua egéria com leucemia agora usa peruca.

EPR  

sábado, 14 de agosto de 2021

Ficologia

 



Se não fossem as algas, que saberíamos da alegria?


Faz tempo as algas tinham braços
e refletiam as asas da água em flores marinhas
inebriadas em redor pelo fósforo dos peixes
que direcionavam faróis para as gemas das ilhas,
Faz tempo cruzavam a eternidade
a poesia e a língua dos corais em ritmo e harmonia
e vinham dar à praia na cinza prateada da areia
fundeadas por âncoras e cílios de auroras
Faz tempo os amantes vinham partindo e chegando
em rosas da tarde em dulcíssimos navios na nave do dia
e recolhiam a luz do silêncio imortal entre esta e a outra vida.

Faz tempo os humanos percorriam as pálpebras do céu
entre folhas de sol e abrigos de mel
e eram estrelas
e ampliavam uma nova língua,

Se não fossem as algas, que saberíamos da alegria?

Maria Azenha

Descrição de imagem




Não tive tempo de limpar a janela



Manchas me atraem
O nó da nódoa
Pulvinar para a metáfora descansar
Pensar em algas
Como alternativa pode pulverizar tudo ao redor
Um frenético pulular de novas ideias parece ameaçar, na raiz, a fé e a moral, colocando em dúvida tudo e todos
Ulvina vinha de uma maneira estranha em minha mente
Padina na padieira
Colidiste com algo que vinha no sentido contrário
Tentei evitar qualquer tipo de acidente
Tentei evitar conversar com as paredes
Tentei dizer-te enquanto estavas a largar-me no mar... mas não sabia da história toda
Porém, ainda falta muita coisa para falar sobre as possibilidades de alcance e funções para que os benefícios sejam compreendidos
Há segredos que é melhor não serem desvendados
Saberá do essencial.

EPR

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Então o paradoxo desaparecerá e manifestar-se-á plenamente a profunda simplicidade do seu significado



Paradoxos

Para com a doxomania 
Quem tudo quer nada tem
Almeje apenas o necessário para um dia
 Ambicione o ambíguo
Alguém que cobice o nosso êxito
Apeteça o apételo
É melhor ires antes que me apeteça alguma coisa
Ou talvez lhe apeteça algo um pouco mais leve para a caixa torácica
Ascenda um incenso
Pancaio sem pancalismo
Será sempre um pancão
Pancárpia para a pancardite
Os valores referem-se às componentes utilizadas pelo critério de parcimônia como covariáveis
Não levará para cova divícias
Nenhum dividendo
Será sua punição divina
Para evitar o sofrimento cultivamos o desapego
Renúncia da pronúncia
Puncionar o silêncio
Isto requer abnegação.

      EPR

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Descrição de imagem




Cômodos




Quando eu faço desse corredor um labirinto

O prefixo que estuga não me inspira

Isso cria um fluxo estagnado

Demoro uma hora para chegar no quarto

Já perdi muito tempo com isso

Melhor desistir de tudo

Abdicar da metáfora

Procrastino tudo, alguém disse

Portas sempre abertas

Arreveso um pouco

Cada arremesso revela um bônus de diferente valor

Fecho-as e escondo as chaves

Esqueço e durmo no sofá

Amanhã alguém abre

Posso e consigo, descer as escadas no escuro

Posso e consigo, ficar sem pensar em você

São reptos que crio

A origem do caos.


                                                      EPR

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Comportamento inadequado

 



Gotas

Utilizaram as pétalas como um trampolim
Diversão até ressequir
A algiba que se formou é irregular
Giba de uma Gibbsita
Incólumes aos espinhos.



Estuante Estante

A estante lê o livro
Antes do ledor
Divulga o final da história para todos
Não respeitaram o aviso bem grande na entrada: Sem spoliers
A poeira provoca a esternutação.




Insônia


Aqui ninguém dorme
Sonhos lúcidos esbodegaram o ambiente
Vamos então para a bodega
Não adianta o hierático na parede
A Parectropia
O jeito é ser boêmio.


                                      EPR

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Transtorno Obsessivo Compulsivo



Oscilador estocástico


Estoca a toça
Involuntária litolatria
E o meu TOC
Alguém bate na porta
Onomatopeia contra o silêncio
A toca foi descoberta
A estrutura oca da metáfora
Troca pelo troçante
Cortante Trocarte
Torcaz na soleira
Tem quem torça contra
Torce para a permanência da solidão
Já coloquei aljorce nela
O alcorce contra o acerbo
Talvez taumatina
Por tamina
Com tamidina
Estavam tentando fazer uma lâmpada contra o escuro
O trauma que fica
A prioridade é estabilizar o trauma na metáfora
A tratriz que se forma
Nunca houve também qualquer tratativa
Nunca houve qualquer motivo razoável
Nunca houve qualquer coisa remotamente parecida
Nunca houve qualquer sensação.


EPR
***Tamidina:substantivo feminino Nitrocelulose reduzida, empregada na fabricação de filamentos de lâmpadas elétricas.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Descrição de imagem



Vontade de ser epitáfio


Sucumbiu antes do cumbu
Servir para o câmbio
Deixo-te conculcar
Inculcar uma metáfora
Inculpabilidade de algo ilícito
A incudectomia
Incubar o estribo para originar o silêncio
Não precisava de tudo isso
A conculha é fagulha
Debulha a hulha
Deixe a sarafulha
Arminho da minha amiotrofia
Algo amíntico
Como sua presença
A mim só me interessa a inércia
Não venha a mim procurar referências
Não é a mim que você deve reportar
Não cabe a mim interferir.



                                 Ednei Pereira Rodrigues




***arminho:O que é muito alvo, branco; brancura.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Descrição de imagem

 





Associações impertinentes: A pena ,a inércia e o tábido

Não quero seu trono
Cheio de rontó
Único fardo: o tábido
Não vai conseguir o adejo
Com apenas uma pena
A roda era a incerteza
De qual meio de transporte utilizar para a fuga
A paúra do páramo
A evolução da inércia
E não precisa de tanto fulgor
Para o fúfio
A nalga sempre tão vulgar
A lipodistrofia ginoide não inspira
A glutite constrange
A esteatopigia
Apetece a ulna
Nunca vai sentir o masséter
A volúpia.

                             Ednei Pereira Rodrigues


****poesia escrita após a leitura do livro:O Sol nas feridas de Ronaldo Cagiano
                              



GÊNESE

Busco na palavra sua unção,
labirinto de paradoxos,
onde mergulho
feito escafandrista num garimpo de im
possibilidades.
Território de invenções,
ela me estende a ponte
entre o sagrado
e o profano

Em cada manhã
rompe com sua insistência de rio
e sua pontualidade solar.

Meticuloso engenho do verbo
que se faz silêncio
ou boato

Rumino sua nudez
ou desvelo as suas rugas.

Entre a fuga
e os deslizes
o poema vinga

rosa intimorata perfurando o asfalto

Nutre-me do que é míngua
recicla-me do que é sangue.

                                     Ronaldo Cagiano