quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A vida é muito mais que isso


espaço interior


quando o poema 
são restos do naufrágio 
do espaço interior 
numa furtiva luz 
desesperada, 


resvalando até 
à superfície, 
lisa, firme, compacta, 
das coisas que todos 
os dias agarramos, 


quando 
o poema as envolve 
numa aura verbal 
e se incorpora nelas, 
ou são elas a impor-lhe 


a sua metafísica 
e o espaço exterior 
que povoam de 
temporalidades eriçadas, 
luzes cruas, sons ínfimos, poeiras. 

Vasco Graça Moura





Recomendações

Deve-se de certa maneira ignorar normas
Normal seria se você estivesse aqui
Não uma solidão humanizada
Tendo em vista a manifestação do recorrente
Recorrer da decisão estipulada
Estímulos são necessários
Algo estíptico que diminua as secreções
Não precisamos disso
Certo que isso tenha alguma serventia
Inverta-se o invertebrado em busca da essência
Não pretende deter sua investida de se aprofundar
Pede-se coerência no final para o entendimento
A coersão do coerido
O que falta é mais cor para o comersão
A emersão da metáfora fluídica
Tudo o que está imerso
O imetódico requer prática sobre um pressuposto
Pressurizar o corpo amorfo
Para aumentar a prestabilidade
A vida é muito mais que isso.

                EPR

sábado, 17 de novembro de 2018

Anagramas escatológicos


O Silêncio


Quando a ternura 
parece já do seu ofício fatigada, 
e o sono, a mais incerta barca, 
inda demora, 
quando azuis irrompem 
os teus olhos 
 procuram 
nos meus navegação segura, 
é que eu te falo das palavras 
desamparadas e desertas, 
pelo silêncio fascinadas. 


Eugênio de Andrade 




Contemporâneo

Contém porra 
Difícil proar 
Alguma coisa parece reter o percurso 
Percutâneo até ázigos
Jazigo de minha essência
Sem a pureza dos devaneios incautos
Sem o encanto do cenanto
Portento como portelama
O voo interrompido do cencrame
Por mais infame que seja 
Ainda tem seus atributos
Não precisa muito para conquistar a conquite
Estamos quites
Você tem minha incoerência
Eu fico com o seu incõe
A colheita foi satisfatória.

Ednei P.Rodrigues
   

sábado, 3 de novembro de 2018

Monobafia



Cinza

entre as numerosas brancas
amarelas e vermelhas
é rara uma rosa rosa

a laranja só é laranja
depois de ter sido verde
por muito tempo,e amarela

mas a cinza é sempre cinza

                             Marco Catalão 




A bituca

Guimba,bagana,prisca...
Tantos nomes definam o definhar
Designação sem desígnios
Design desigual ao que se pretendia alcançar
Intuito de intitular algo
Não sou fênix
Não vou renascer das cinzas
Conformado ao viço postiço
Submisso ao maciço
Enquanto houver lume: a vida efêmera
Sarjar a sarjeta
Execro a boca ingrata do tísico
Engrama no corpo
Em grama:princípio de incêndio
O pé descalço que me calca
Cautela na cauterização
O tabaco que me envolve
Esparso como nuvem.

                              Ednei P.Rodrigues