quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Fragmentos de mim


    Ante as portas desgarradas, paradoxal
é a morte: impossível, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livre

ar. Que te transformes e assemelhes à noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiração com voz, área que habitaste,
vária e discordante, a cada movimento.

E agora que a luz desfalece e não a tocas,
nem por ela és tocado, a palavra deixou
de ser a tua pátria e não mais esfolias

o espaço. Agora, que já nada mudará,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frágil espaço que foi teu.


Orlando Neves, "Decomposição - o Corpo"



Frágil

A quebra da ampulheta
Foi proposital
Quis no quid 
Parar o tempo
Como se isso fosse a solução para todos os problemas
O soluço constante
Enfrento a fobia e nado 10 km
Vontade de ser deserto
Não existe mais diferença entre o seco
A secreção
De modo secreto
Ninguém precisa ver o vazio
Nem o espelho precisa mostrar a face
Vontade de ser janela 
E esperar a pedra
Não consigo deserdar o desértico da poesia
Pirálide na Pirâmide
Aclâmide atenua a acufagia 
Ninguém tem medo do anátema 
Tesouro do faraó em exposição.

                                             Ednei P. Rodrigues

glossário:
Quid-Pronome interrogativo que significa "quê". Emprega-se para expressar o ponto difícil ou mais importante de uma questão
Pirálide-Nome dado a várias borboletas noturnas

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