Corpo de Ambiguidade
posso e não posso ir-me noite fora
nestes pilares do medo desta dor
- é quando os dedos ferem (não se tocam)
é quando hesito e coro
é quando vou não vou neste mergulho
em seco a imergir em pobre chão
de caos e flor e vinho e confusão
é quando sem chorar me escondo e choro.
João Rui de Sousa
Etologia
Abada de devaneios
Animal acidental
Malina Maligna
Para se afogar
Talvez Vikings
Chifres contidos
Estro como servo do cervo
Evocar o acervo de metáforas
O nervo frênico continua intacto
Ganho um galho
Quando penso em Pinheiros
Vontade de ser árvore
Mácula de Marula
A mórula do râmulo
A breve tórula
Quando quebrou a rótula
Raízes se fincam no vazio
No tronco o diafragma inala a arsina
Ansiar por algo
Angústia em Angu.
Ednei P.Rodrigues
Glossário:
Abada-Porção contida na aba suspensa pelas mãos: Abada de flores.
Abada é um animal mítico semelhante a um unicórnio.
malina-maré alta
A marula ou canhoeiro (Sclerocarya birrea) (skleros dura, karya noz - referência à semente) é uma árvore de tamanho mediano, originária do bioma das savanas da África oriental.
tórula-fungos imperfeitos escuros.
A arsina ou hidreto de arsênio ( AsH3 ) é um composto inorgânico gasoso na temperatura ambiente, é inflamável e altamente tóxico[2] constituído de hidrogênio e arsênio.
Rótula-osso arredondado, móvel, situado um pouco acima da articulação do fêmur com a tíbia, na face anterior do joelho.
Angu é uma cratera do planeta Marte.
Desejos Vãos
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!
Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...
Florbela Espanca, "Livro de Mágoas"
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!
Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...
Florbela Espanca, "Livro de Mágoas"
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