sábado, 18 de março de 2017

Lugares onde nunca estive



 O ar da tua carne, ar escuro
anoitece pedra e vento.
Corre o enorme dentro do teu corpo
o ar externo
de céus atropelados. O firmamento,
incêndio de pilastras,
não está fora - rui por dentro.
Reverbera no escuro o brilho baço
do túrgido aríete
com que distância e tempo enfureces.

Teu pisar macio, dançarino,
enobrece os ventres frios, 
femininos.

A tua volta tudo canta.
Tudo desconhece.


Elefante (Francisco Alvim - 1938)


Obelisco do Elefante_Roma,Itália


Matutino

A noite persiste
Sonhos no balcão da padaria
E o pesadelo de estar perdido na Pradaria 
Inclua lucina em seu awake
O sarcito de Minerveo,sem oscitar
Anexa Ganesha no verso
Para a poesia ficar mais leve
Sendo comprovadamente vetores de pólen
Sem precisar explicar muito
Explica a plica
Refém do refego
Nada precisa ser refeito
Pássaro a se apossar da xícara
Rémiges ao invês de café
Algo apossarco para as mazelas do mazagran
Pise no pires sem ires à lugar nenhum
Estátua Estável de equilíbrio constante
Mesmo quando tudo tende para a vertigem
Aquela detentora de tudo.

                                                         Ednei P.Rodrigues

Glossário:
Minerveo:Obelisco do Elefante (em italiano: Obelisco della Minerva ou Pulcino della Minerva), chamado também de Minerveo, é uma escultura projetada pelo artista italiano Gian Lorenzo Bernini localizada em Roma, Itália. O elefante foi provavelmente executado por seu assistente Ercole Ferrata e o obelisco é um antigo monumento egípcio encontrado no claustro do convento dominicano nas imediações.
Mazagran:bebida fria de café adoçado que teve origem na Argélia.



   Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
             Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
             Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
             Coração de ninguém. 


                        Fernando Pessoa,"Cancioneiro"

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