O Auto-Retrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
Mário Quintana, in 'Apontamentos de História Sobrenatural'
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
Mário Quintana, in 'Apontamentos de História Sobrenatural'
os comedores de batata 1885
Anagramas edíveis
Exceto o oomiceto ábdito
O tábido no verso
Alternar a alternaira para algo benéfico
A Natureza morta emerge
Amerge a megera com sua libido
Reagem à solidão
Duelo com o edulo
O vesco do escoiço
A escorva como alimento da estrofe
Um pouco de amido
Liamento com o estro
A orelha em Lahore
Para se ouvir o petardo
O tonal do tritonal
O estribo não percebe
Silêncio ensurdecedor
Paracusia rugia
Leonina de maneira não linear
Paracusia rugia
Leonina de maneira não linear
Oxímoros para o seu bel-prazer
A retórica que entorpece
Parei com esses paradoxos.
Ednei P.Rodrigues
Glossário:
oomiceto-fungo responsável pela destruição de plantação de batatas
alternaira- praga nas batatas conhecida como pinta preta ou alternaira é causada pelos fungos Alternaria solani
Lahore(anagrama:orelha)também conhecida como Laore,é a capital e a mais populosa cidade da província do Panjabe, no Paquistão.
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder