Rasgo o melancólico interior dos insetos
atravesso a sabedoria das infindáveis areias do sono
sou o último habitante do lado mitológico das cidades
por vezes consigo acordar
sacio a sede com a tua sombra para que nada me persiga
teço o casulo de cocaína escondo-me no mel da língua
lembro-me... fomos dois amigos e um cão sem nome
percorrendo a estelar noite noutros corpos
mas já me doem as veias quando te chamo
o coração oxidado enjaulou a vontade de te amar
os dedos largaram profundas ausências sobre o rosto
e os dias são pequenas manchas de cor sem ninguém
ficou-me este corpo sem tempo fotografado à sombra da casa
onde a memória se quebra com os objetos e amarelece no papel
pouco ou nada me lembro de mim
em tempos escrevi um diário perdido numa mudança de casa
continuo a monologar com o medo a visão breve destes ossos
suspensos no fulcro da noite por um fio de sal
partir de novo seria tudo esquecer
mesmo a ave que de manhã vem dar asas à boca recente do sonho
mas decidi ficar aqui a olhar sem paixão o lixo dos espelhos
onde a vida e os barcos se cobrem de lodo
pernoito neste corpo magro espero a catástrofe
basta manter-me imóvel e olhar o que fui na fotografia
não... não voltarei a suicidar-me
pelo menos esta noite estou longe de desejar a eternidade.
Al Berto
"'O Medo"'
Defenestração
Voará com o Voorara
Rara percepção do epílogo
A cura com o curare
Aluir com o Urali
Rocurónio feromônio de uma volúpia inerente
Inserção de escárnios de arsênico
O tabun é Tabu
Mescla Mescalina com o vazio
Afonia com o anfião
Papo com as papoulas
Entorpece o entorno aparente
Rente ao chão
Toque o coque
Troque por choque
Eterno e o Tereno adstringente
Se você sentir insegurança
Arraste a janela contigo
O contraste entre a sombra e a luz
Adquira um guindaste
Ou adestre um elefante
Dois pesos,duas medidas
Frases feitas em fractais
Ainda púbere,não em lápide
Apenas um brônquio obstruído
Ainda respiro
É o bloqueio criativo.
Ednei Pereira Rodrigues
Que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa
abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado
mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas
levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo
Al Berto,"'A Noite Progride Puxada à Sirga'"
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