Ascensão
Beijava-te como se sobe uma escadaria:
pedra a pedra, do luminoso para o obscuro,
do mais visível para o mais recôndito
- até que os lábios fossem
não o ardor da sede, nem sequer a magia
da subida,
mas o tremor que é pétala do êxtase,
o lento desprender do sol do corpo
com o feliz quebranto dos meus dedos.
João Rui de Sousa, "'Obstinação do Corpo"'
Anagramas trágicos
A bota treme
Cálida Cáliga
A pedra pulsa
Rastro de sangue no alabastro
Balastro como abrastrol
Outro placebo
Tegumentar a essência com tégula
O talco do esteatito como actol
Cherte inerte
Diverte os sobreviventes
Puna a puma púmice
Bagaço de bagacina como baganha
Esse Sol loesse que não ilumina
Alabanda desanda
Fraga Frágil despenca
Esmaga o maganaz
Esmear restos com o Esmeril
É lícito o ictiol no lítico predominante
Roçar as rochas como parafilia
Adstringente adstringopenispetrafilia.
Ednei P.Rodrigues
Glossário:
Cáliga:bota de meio cano
alabastro:Rocha branca
balastro:
Cascalho ou saibro que se coloca nas linhas férreas para fixar os dormentes.
abrastrol:
Anti-séptico forte
Tegumentar:aquilo que reveste o corpo
tégula:
tipo de telha feita em barro.
actol:
antisséptico.
Cherte:rocha
púmice:rocha
bagacina:rocha
baganha:epiderme
loesse:rocha amarela
alabanda:mármore negro
fraga:rocha
Maganaz:furúnculo
ictiol:
Óleo sulfuroso empregado no tratamento de diversas doenças da pele.
lítico:relativo á pedra
O Medo
Que não se confunde. Por existir se ganha
e nos pertence. Sílabas ou linguagem,
busca o centro nas mãos, nos olhos, o contacto
incessante. Percorre os muros da memória,
na penumbra da palavra se instala. Nada
partilha. Como um monólogo se mascara
de gemas, rumores e gotas de ervas. Flui
e estilhaça as pálpebras, domina as casas,
abala os sismos. Ara o corpo, viva árvore
em ascensão, ronda a pele e os jorros do ar.
Até que nos toma e molda o ventre, descobre
o preço diário da invisivel folhagem
solar. É o que se oculta. Livor, sílaba,
margem eterna da inicial prudência.
Orlando Neves, "Decomposição - o Corpo"
e nos pertence. Sílabas ou linguagem,
busca o centro nas mãos, nos olhos, o contacto
incessante. Percorre os muros da memória,
na penumbra da palavra se instala. Nada
partilha. Como um monólogo se mascara
de gemas, rumores e gotas de ervas. Flui
e estilhaça as pálpebras, domina as casas,
abala os sismos. Ara o corpo, viva árvore
em ascensão, ronda a pele e os jorros do ar.
Até que nos toma e molda o ventre, descobre
o preço diário da invisivel folhagem
solar. É o que se oculta. Livor, sílaba,
margem eterna da inicial prudência.
Orlando Neves, "Decomposição - o Corpo"
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