Tecido
Gilberto Mendonça Teles"Arte de Armar"
O texto tem sua face
de avesso na superfície:
é dia e noite, sintaxe
do que se pensa, ou se disse.
Tudo no texto é disfarce,
ritual de voz e artifício,
como se tudo falasse
por si mesmo, na planície.
Seja por dentro ou por fora,
seja de lado ou durante,
o texto é sempre demora:
o descompasso da escrita
e da leitura no grande
intervalo dos sentidos.
Disfarce
Ednei Pereira Rodrigues
Sob o emboço a embófia
Indulto ao Induto
Frígida madame macadame
Adiposa betoneira,mistura tudo
Buldogue como buldôzer
Exuma o que exulta
Sítio arqueológico descoberto
Girafa análoga ao poste
Talvez mastro de balandra no bardanal
Haste em contraste com o desbaste
O desgaste de tudo
Esconde minha bruma
Esconde o côndilo
Condição mais favorável ao esquecimento
Já pode começar à se recompor
Recobrar o juízo
Se passar por lúcido
O lúdico não é evo
O frevo não é imbrífero
Camuflagem do flagelo lírico
Paralelo ao desejo
Camuflagem de camurça para a camúnia
Fermenta a fermata que feri o silêncio
A súplica da plica sem ética
Bemol em prol do silêncio
Toda pujança da puíta pulante.
Glossário:
emboço:Primeira camada de cal ou argamassa que se assenta na parede
embofia:vaidade
induto:vestuário,traje
macadame: Sistema de pavimentação de ruas e estradas com pedra britada e saibro
balandra:embarcação coberta
bardanal:terreno mal cultivado
desbaste: tornar menos basto, espesso ou grosso.
Côndilo: Superfície óssea articular
camúnia: Corja, súcia.
Agrupamento de rapazes.
fermata: Suspensão do compasso, para que o executante prolongue a nota por tempo indeterminado.
plica:Sinal de notação musical.
puíta:cuíca
O POSTE
Orlando Brito
Numa esquina plantado, erma e tristonha,
no solo projetando a sombra esguia,
o poste tem cilêncios de cegonha
que cisma à beira da lagoa fria.
É noite, e seu perfil é de um vigia
que, a perscrutar a escuridão medonha,
com seu olho de vidro espia, espia...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.
Ao vir do sol, aos claros regozijos
dos pássaros, feliz, ele equilibra
a estrela da manhã nos braços rijos.
Já não é poste de feição tristonha.
É árvore, e floresce, e esgalha e vibra...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.
de avesso na superfície:
é dia e noite, sintaxe
do que se pensa, ou se disse.
Tudo no texto é disfarce,
ritual de voz e artifício,
como se tudo falasse
por si mesmo, na planície.
Seja por dentro ou por fora,
seja de lado ou durante,
o texto é sempre demora:
o descompasso da escrita
e da leitura no grande
intervalo dos sentidos.
Disfarce
Ednei Pereira Rodrigues
Sob o emboço a embófia
Indulto ao Induto
Frígida madame macadame
Adiposa betoneira,mistura tudo
Buldogue como buldôzer
Exuma o que exulta
Sítio arqueológico descoberto
Girafa análoga ao poste
Talvez mastro de balandra no bardanal
Haste em contraste com o desbaste
O desgaste de tudo
Esconde minha bruma
Esconde o côndilo
Condição mais favorável ao esquecimento
Já pode começar à se recompor
Recobrar o juízo
Se passar por lúcido
O lúdico não é evo
O frevo não é imbrífero
Camuflagem do flagelo lírico
Paralelo ao desejo
Camuflagem de camurça para a camúnia
Fermenta a fermata que feri o silêncio
A súplica da plica sem ética
Bemol em prol do silêncio
Toda pujança da puíta pulante.
Glossário:
emboço:Primeira camada de cal ou argamassa que se assenta na parede
embofia:vaidade
induto:vestuário,traje
macadame: Sistema de pavimentação de ruas e estradas com pedra britada e saibro
balandra:embarcação coberta
bardanal:terreno mal cultivado
desbaste: tornar menos basto, espesso ou grosso.
Côndilo: Superfície óssea articular
camúnia: Corja, súcia.
Agrupamento de rapazes.
fermata: Suspensão do compasso, para que o executante prolongue a nota por tempo indeterminado.
plica:Sinal de notação musical.
puíta:cuíca
O POSTE
Orlando Brito
Numa esquina plantado, erma e tristonha,
no solo projetando a sombra esguia,
o poste tem cilêncios de cegonha
que cisma à beira da lagoa fria.
É noite, e seu perfil é de um vigia
que, a perscrutar a escuridão medonha,
com seu olho de vidro espia, espia...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.
Ao vir do sol, aos claros regozijos
dos pássaros, feliz, ele equilibra
a estrela da manhã nos braços rijos.
Já não é poste de feição tristonha.
É árvore, e floresce, e esgalha e vibra...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.
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