Viagem
Aíla Sampaio
Aíla Sampaio
Vida: vagão de um trem
a qualquer hora
a soltar-se pelos trilhos.
Se fendem as trancas
na ferrugem das peças,
nenhuma alavanca detém a carga.
Sigo. Passageira sem estação de rota.
Quando vou, estou indo de volta
como se por mim tudo fosse outra vez
sem ter sido nunca a primeira.
Meu corpo é minha bagagem
arma atenta à cicatriz
que não fecha
e a que se cava
em tua ausência
materializada na cadeira vazia.
Ao meu lado, o passado:
sentença do efêmero,
algema sem trancas.
Sigo como um vagão
desgarrado do comboio,
querendo ainda obedecer
ao freio das alavancas.
Vontade férrea
Ednei Pereira Rodrigues
Insossa Insônia vertical que me aflige
Não consigo pensar no horizontal
O deitado já foi editado várias vezes
Teoria de uma conspiração abstrata
Já fez a inspeção do insólito?
Então já pode se retirar insolente!
Insisto no ínsito que insinuei insípido
Determinado de minhas convicções
Estabeleço residência por ausência de reciprocidade
Não me importo com os sismos
Carinho do carril em minha nuca
Nunca tive quando estava com voçê
Adestro este estrado sem destoar o destino
Sem destronar a rainha tebaida de minha razão
Soberana do sobejo sobre este vazio
Monarca do momento moído
Não me importo se me destroncar
Vou sobreviver ao soberano engano
Vou resistir sem existir de fato
Como resíduo de algo bom
Na resma memória do que penso.
Insossa Insônia vertical que me aflige
Não consigo pensar no horizontal
O deitado já foi editado várias vezes
Teoria de uma conspiração abstrata
Já fez a inspeção do insólito?
Então já pode se retirar insolente!
Insisto no ínsito que insinuei insípido
Determinado de minhas convicções
Estabeleço residência por ausência de reciprocidade
Não me importo com os sismos
Carinho do carril em minha nuca
Nunca tive quando estava com voçê
Adestro este estrado sem destoar o destino
Sem destronar a rainha tebaida de minha razão
Soberana do sobejo sobre este vazio
Monarca do momento moído
Não me importo se me destroncar
Vou sobreviver ao soberano engano
Vou resistir sem existir de fato
Como resíduo de algo bom
Na resma memória do que penso.
A sintaxe do ferro
Ricardo Rizzo
Mencionar o ferro é expô-lo
à dura nudez de palavra
no registro encerrada, sílabas
articulando matéria, antimatéria.
Em que categoria confinar o ferro
todo o ferro que há no mundo,
insuspeito?
Se em uma só palavra, e curta,
traz a geografia de mundos, estrelas?
O ferro do despeito
vaza a sintaxe,
fere e desnorteia.
Não é o ferro palatável, o ferro
que a todos resume, paroxítono.
Dizer o ferro é lambê-lo,
comê-lo, fruta escura,
é atividade carnal, antes
tenso combate subterrâneo
que se trava, ou melhor, se turva
entre noite e sombra nos edifícios.
Mas já um sal do ferro convida
a dobrar o ferro utilitário
a romper o ferro posto
vingar-lhe o porte mortuário
mencionar o ferro é mudá-lo
em terrena dor de gente;
é fecundar-lhe o ventre
divergente e proletário.
Mencionar o ferro é expô-lo
à dura nudez de palavra
no registro encerrada, sílabas
articulando matéria, antimatéria.
Em que categoria confinar o ferro
todo o ferro que há no mundo,
insuspeito?
Se em uma só palavra, e curta,
traz a geografia de mundos, estrelas?
O ferro do despeito
vaza a sintaxe,
fere e desnorteia.
Não é o ferro palatável, o ferro
que a todos resume, paroxítono.
Dizer o ferro é lambê-lo,
comê-lo, fruta escura,
é atividade carnal, antes
tenso combate subterrâneo
que se trava, ou melhor, se turva
entre noite e sombra nos edifícios.
Mas já um sal do ferro convida
a dobrar o ferro utilitário
a romper o ferro posto
vingar-lhe o porte mortuário
mencionar o ferro é mudá-lo
em terrena dor de gente;
é fecundar-lhe o ventre
divergente e proletário.
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