quinta-feira, 13 de março de 2014

Do pó vieste e ao pó voltarás






Horário do Fim
Mia Couto,"Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento



Elegia 
Ednei Pereira Rodrigues


Greda como grade
Sebe para quem tem sede
Aquele que contorna a sede
Falta sebo
É ebó
Uma emboscada para o embrião


Greda como moeda
Compra o Éden?
Cura o Edema?
Cunha como testemunha
Só sobrou uma unha
Para arranhar o ébano do meu féretro


Ganância com a gândara
Inútil granada para a gangrena
O pueril brinca na gangorra
Substituir minha esquife por pruca
Ninguém se importa
Quando o concreto é concupiscível


Gleba que geba
Pode gear que não sinto frio
Sou caudino
É todo esse caulim
Lodo com dolo
Bátega para o batismo do batráquio.

GLOSSÁRIO

Greda:Barro ou calcário muito macio e friável, de um amarelo esverdeado, que geralmente contém sílica e argila.
cunha:moeda
caudino:feito de um tronco
caulim:argila
Sebe:Cerca de varas ou ripas entrelaçadas.Sebe viva, cerca feita com arbustos; o mesmo que cerca viva.
Sebo:Produto de secreção das glândulas sebáceas.
ebó:Macumba
ébano:Madeira preta e dura que adquire um lindo brilho metálico quando polida.
féretro:caixão
gândara:areia
gangrena:morte
esquife:caixão
pruca:assento
concupiscível:ganância
bátega:chuva
batraquio relacionado às rãs ou aos sapos

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