sábado, 3 de agosto de 2013

Monocromático



ICEBERG (Paulo Leminski)

Uma poesia ártica,
claro, é isso que desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não. Nenhuma,
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?).
Sim, inverno, estamos vivos.



Nivelar o níveo


Tudo é lepra

Qualquer matiz lépida

Contém caligem

E o verniz que escorre do nariz

Para brunir a bruma

Flocos de neve para florir mogorim(rosa branca)

Todo remorso no dorso

Avalanche para avaliar o grau da chaga

Isopor para iceberg falso

Alude para ludibriar o lúgubre

Eclipsar a cretina retina

Encanecer é necessário

Extrair o látex que corre por minhas veias

Borracha que não extingue achaques

Madeira para o ádito dentígero que range

Hipotermia como hipótese

Para convalescer da cirurgia total de prótese.

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