segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Monólogo de uma piscina: Ensinando pedras a nadar

 imagem @Delfina Carmona

 

Insistir é em vão; elas jamais adquirirão a habilidade. Não atribua essa limitação ao meu desequilíbrio de pH ou ao excesso de cloro; afinal, são simplesmente pedras, desprovidas de qualquer desenvoltura na água. Elas me menosprezam por causa das inócuas ondulações, sem erosão. Fizeram do trampolim seu trono, onde regem com toda rispidez, criando leis sem sentido:Restrição de conversas profundas, discussões filosóficas e teológicas estão vetadas durante os momentos de relaxamento. A profundidade da água deve ser explorada apenas em termos físicos, não metafísicos. Elas querem se vingar de mim, tramando estratégias de insurgência submersas, elas tentam desestabilizar a calmaria que busco manter nas profundezas.  Nem todo chape tem algum motivo; às vezes, pode estar intrínseco, desvendando a harmonia oculta nas quedas e impactos. Quando deixo tudo mais leve, a metáfora espreita na bolha relutando em manter-se na superfície, está acostumada com o submerso onde tudo é obscuro, mas sua iridescência cintila sob a luz solar. E ninguém está preocupado com o decesso, com o envelhecimento temporário. Vou amojar seu Mojave; toda gleba infértil será fecunda, e não haverá mais escassez. Não vai precisar de toda essa saliva para o plectro, perdigotos perdoados pelo caos. Encontraram-na agarrada a uma boia, sem entender a razão de sua deriva. Nos olhos, o reflexo do oceano vasto que a envolvia.- "É raso!" alguém disse. “Não precisa disso", mas ela continuava com receio, para as águas que pareciam mais profundas do que nunca. A verdadeira profundidade não se limitava a metros, mas na coragem de explorar o desconhecido que se ocultava sobre a superfície. Diante da imensidão marítima, ela mergulhou não apenas nas águas desconhecidas, mas nas profundezas inexploradas de sua própria alma. Cada onda que quebrava contra seu corpo, reverberavam os murmúrios das emoções que se desdobravam nas sombras. E, à medida que emergia do abismo aquático, não era apenas a brisa marinha que acariciava seu rosto, mas a sensação de renovação, de ter desvendado os enigmas de suas profundezas internas. 

 

 

***Chape: substantivo masculino Som de coisa que cai ou bate na água.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Inspiração pétrea

 São tristes os meus dias com pedras
em lugar de mãos
ou a cabeça funda na brancura
de través do travesseiro
e o corpo depresso em moles guindastes.
São dias de chorar por menos
ou teimar queixoso com um crânio polido,
batuque convexo
no muro demorado.

Ficar a ouvir o sangue,
o som tubular do sangue. Ao vale seco
da clavícula atrair a água, o sangue
e sorver a sopa intestina
ou se o líquido escapa à boca
tantálica, calar com argila
o que me pede água.

Ficar a palpar os buracos
da ausência, as ligas
da ausência, as ribanceiras
a que caem os pensamentos, a cor
dióspiro que banha a enfermidade
e em seguida tomar o pulso
evadido, travar o touro, o soco da dor,
o infinito infinitivo presente.

Uma amálgama de alma
migra no fôlego de modorrento
pregão de dor, o condor
passa e anda andino e é uma
traça asfixiante: faço um céu rarefeito,
a dispneia é um felino
que arranha céus
e a boca rebuliço espúmeo
expele o sabor da morte
e o que mais consiga cuspir
por entre ovéns e enxárcias
e traves quebradas.

É uma desilusão com as coisas,
uma desilusão funda com as coisas,
com o vazio meio-cheio das coisas.
Meu fôlego um fólio cheio
de silêncio, uma catástrofe natural

um vulcão: no meu pulmão pôr lava
e no trovão treva.                                               

                               Daniel Jonas

Extraído do site: https://www.lyrikline.org/pt/poemas/saotristesosmeusdiascompedras-13089

 

 


 

 

Anagramas marítimos



Não deveria ter confiado em suas palavras,

Dizia que tudo vai se encaixar com a enxárcia

Não mais me submeterei às sombras dos seus desejos,

Agora terei que quilhar a metáfora



Agora enfrentaremos o que vai enfrenesiar,

Agora que está tudo disperso por aí

A firmeza das ideias nunca mais terá,

Talvez escrever sobre algo gelatinoso


A vaselina escorre,

Calma, não é nada lascivo

A laséguea não suporta mais o laser,

Lazer seria se a mente estivesse em paz



Preparando o terreno para a metáfora entrar no verso,

Agrar o agravamento

Argentina morre após injetar vaselina nos seios,

O corpo humano possui anticorpos para eliminar bactérias e vírus,

Entretanto, não dispõe de qualquer mecanismo de defesa contra esse tipo de substância



Tudo o que tem uma consistência mole será como um elmo,
Como se a maleabilidade fosse uma resposta natural ao caos
A mola interna proporciona mais flexibilidade,
O que tem uma substância mais visceral o acompanhará por toda a existência.
 
 

sábado, 6 de janeiro de 2024

Inspiração Post mortem

imagem: Maria Teneva (Unsplash)


Relutante



Mesmo com a diastema, o valor do silêncio continua inabalado

Elefante mutilado segue os vestígios de sua presa

Até chegar em um conservatório

A música o envolveu de tal maneira que a ânsia de destruição que antes o consumia se dissipou

 
 
Tens aí as últimas palavras de alguém angustiado

Percebe-se que é algum código

Há simbologia em tudo

E nenhum inseto deve ser desprezado



A metáfora munduri se esforçou para deixar tudo no mínimo, agridoce

Empenhou-se na polinização da munefe

Era munerária involuntária

No munduru de ideias parece estar tudo bem



Por mais repugnante que seja

A laparocele manifesta-se através do láparo

A vertigem manifesta-se através da girafa com seu prefixo vertiginoso

Mudou-se para Varsóvia


Żyrafa przeglądała świat spokojnym spojrzeniem

Seu pescoço erguendo-se em direção ao céu como uma árvore

Quase podia tocar as estrelas

Não vão mais estar em seus sonhos


Aceite os espólios que deixei

Toda quercetina das macieiras

O rebuçado extraído do âmago

Teremos apfelkuchen na sobremesa.




imagem:formigas comendo abelha

***Apfelkuchen=Torta de maçã