O Assassinato de Schopenhauer
Eu venci da validade da caixa de leite
que virou creme
na porta da geladeira
Eu venci do pão de forma embolorado esquecido
no fundo do armário cheio de furo
cupim
Eu venci do arroz mofado que precisa
lavar a panela na pia de louça
almoço do dia seguinte
já fede
Eu venci
do pretérito perfeito de
vencer.
Apodreço a cada cuspida azeda
engolida a força pela garganta inflamada
estomatite faz bolha beirar os lábios
rachados de dor
Lepra espiritual derrubou senso de conduta
o físico desencapado para a alma desiludida
guiar
mas estou parada no meio da linha da vida
tentando derrubar um inimigo medieval
com armas de Schopenhauer
Mato Schopenhauer e a sua vontade
de fazer com a gente se mate
para chegar no Nirvana
mato todos os meus eus, mas não a mim
que me deixo vencer
fragmentar
Eu venci de mim mesma
minha gêmea má do conto de fadas
sem cavaleiro e sem resgate
estar vencida e ser vencida do narcisismo que
impus a mastigar igual bala de goma
com cárie nos dentes
Eu venci
e venci na ambiguidade do verbo
a batalha sangrenta sem herói
e deixo que as interpretações resgatem
a vaidade de me escolher
na insignificância do vazio fermentado
de pão caseiro saído do forno
Deixo
a conjugação de lado
nem infinitivo
infinito
ação e estado
sem data de validade
sem vencer
sem estar.
Fabi Marcieli
Lugares onde nunca estive
Eu perdi para a ignorância
Tanto apedeutismo que atrofia o cérebro
Apedrejamento como pena máxima
Apegar-se a esse princípio
A derrota era iminente
Talvez em Roterdã o reconhecimento
Fuga de cérebros
Mudança de rota
Prostrado diante do Prostômio
O protagonismo exagerado causou desconforto
Sob a proteção do abstrato
Faltou uma proteína para a entropia
A insipidez da insipiência
A insistência pelo óbvio
Insinuar o insípido
Faltou o insight
Tanta inscícia
Fez regredir séculos
O espéculo não encontrou nada
Ainda ouvia-se o éculo
A metáfora passou a data de validade e se transformou em silêncio
Ninguém leu
Não teve críticas
Cício de um suplício.
EPR
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