PASSOS E ACENOS
Nada tens de ave. Fera lúcida, olho
felino (pantera de Rilke entre grades)
nunca indefesa, à espreita. Além dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo (franja
dos dias) — o mais dardeja. Também és
elástica e macia: braços, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos membros,
ao calor da voz que atordoa o vento.
Sentada, as formas se acomodam, urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo, ouço
o marulho do sexo, ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de garras
que me acenam, me buscam pela tarde.
Florisvaldo Mattos
Cálice
Faltou aliche para ser Mar
Faltou pouco para ser alicerce
A origem do aluimento
Aliciar a metáfora com o alceamento
Como se fosse uma deidade
Nume implume contra o estrume
Mais um aporte áptero
Realce o lapso
Provisões para o opressivo
Reservas para revessar
Vitualhas para o vitupério
Vai vir como um refrigério
Toda minha refringência
Sem precisar refrondar o trâmite
O prefixo era cândido
Unidade de medida de calor
Quando o álgido era preponderante
Poesia feita por um alvanel
No alvanhal como cafua
Sem cadoz nunca será Arafura
O alvo era a metáfora.
Ednei Pereira Rodrigues
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