quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Ruminante Absconso





PASSOS E ACENOS

Nada tens de ave. Fera lúcida, olho
felino (pantera de Rilke entre grades)
nunca indefesa, à espreita. Além dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo (franja
dos dias) — o mais dardeja. Também és
elástica e macia: braços, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos membros,
ao calor da voz que atordoa o vento.
Sentada, as formas se acomodam, urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo, ouço
o marulho do sexo, ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de garras
que me acenam, me buscam pela tarde.

 Florisvaldo Mattos





Cálice


Faltou aliche para ser Mar 
Faltou pouco para ser alicerce 
A origem do aluimento 
Aliciar a metáfora com o alceamento 
Como se fosse uma deidade 
Nume implume contra o estrume 
Mais um aporte áptero 
Realce o lapso 
Provisões para o opressivo 
Reservas para revessar 
Vitualhas para o vitupério 
Vai vir como um refrigério 
Toda minha refringência 
Sem precisar refrondar o trâmite 
O prefixo era cândido 
Unidade de medida de calor 
Quando o álgido era preponderante 
Poesia feita por um alvanel 
No alvanhal como cafua 
Sem cadoz nunca será Arafura 
O alvo era a metáfora. 


                                 Ednei Pereira Rodrigues

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