segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Tudo o que foi expelido


Minha Medida

Meu espaço é o dia
de braços abertos
tocando a fímbria de uma e outra noite
o dia
que gira
colado ao planeta
e que sustenta numa das mãos a aurora
e na outra
um crepúsculo de Buenos Aires
Meu espaço, cara,
é o dia terrestre
quer o conduzam os pássaros do mar
ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil
o dia
medido mais pelo meu pulso
do que
pelo meu relógio de pulso
Meu espaço — desmedido —
é o pessoal aí, é nossa
gente,
de braços abertos tocando a fímbria
de uma e outra fome,
o povo, cara,
que numa das mãos sustenta a festa
e na outra
uma bomba de tempo
                                         Ferreira Gullar

relógio que aparece no filme Morangos Silvestres
Frugal

Fragaria abranda a frágua
Ressequir a bágua
Ressentir sua ausência
Cada vez mais fragmentado
Tanto sincronismo pra quê ?
Se no meio do caminho aparece um óbice
Expectorando expectativas
Expedição ao centro da terra
Tudo o que foi expelido
Tende a entreter
Encontrarão alguma utilidade para os ponteiros
Hastes são adaptáveis
Vontade de ser neologismo para sanha: HATE
Flecha complexa para os Maoris
De armas nas mãos em tempos de armistício
Maior erro foi subestimar o tempo
Já penso em outra fruta: Maiorca
Tudo é alimento para a metáfora

Que incrassa o verso. 

                            Ednei Pereira Rodrigues

***poesia escrita após assistir ao filme Morangos Silvestres


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