sábado, 18 de fevereiro de 2017

Anagramas Lúgubres



À PARTIR DA TOPOGRAFIA

Aprende-se muito
com a ausência. Cito a arte
da cartografia, do
paciente desenho
feito olhos a dentro
sem régua ou compasso,
com o qual catálogo, a
posteriori, pintas,
sinais de nascença, e as
(não sem ser expert no
teodolito) marcas
de uma catapora.

Paulo Ferraz





Parosmia

Ninguém instrui a solidão
Contra a súcia 
Sua única defesa:cuias
Talvez algum instrumento:cuicas
O silêncio era ensurdecedor
E sua voz na foz
Contra a Xerostomia
Um oboé submerso
Para a reconciliação com o mar
No auge do estro a solidão é táctil
E a distância não se acostuma com o adjacente
Bússola quebrada
E o fato já foi consumado
Em dezessete sílabas
Seus alamirés ainda me afligem
Aunar seu olor com a aurécia
Talvez  em Caueira 
Acuarei a solidão
Amareis a maresia
Miscar com almíscar
São só eflúvios.

Ednei P. Rodrigues




   Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!... 

Manuel da Fonseca, "Poemas Dispersos"

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Anagramas Mitológicos



ÉBANO

componho
como uma cega como
alguém que sobreviveu
ao bombardeio da casa - estranhas
as crianças em piques gangorras
amarelinhas terríveis
no seu autocontrole
os homens andando
em trajes completos
sob o sol

se rezas não fossem palavras, mas
cores, pintaria algumas para aqueles
que têm as pálpebras estampadas de chão

Andréa Catrópa




Labirintos

O escopro era o escopo 
A copose do corpo
Copos vazios sobre a mesa 
Podem significar algo
A carreação com a carraspana
Um gemmail para sua gemursa 
Escoimar a escoda do erro
Bisel à anediar Ariadne
E a pedra não pesa o poema 
Faz a polinização amenófila
Arilho como uma ária
O veto do vento na área do triângulo
Adorna o vazio 
Aderna com Andréa Catrópa
Aditiva como adita
Ela se aproximou do abismo e parou
O destino do síndeto sem sentido
Talvez seja Satrapia à direita
E não estamos perdidos
Desambiguação de tudo
Até o próximo poema
Apartais o parasita do óbvio
Aquele que incomoda. 

Ednei P.Rodrigues



DISCURSO

tecer o fio de Ariadne
sem ao menos a intenção
de um dia retornar

tecer pelo exercício
narcísico
de se conhecer e doar

ir, perscrutar
para além do verde
opaco da próxima curva

sabendo cada passo
apenas eco
do anterior

ir
pelo puro prazer
da paisagem

ao estrangeiro

é permitido
o esplendor 

Sergio Cohn