segunda-feira, 5 de maio de 2014

LINFA FINAL

                                  Paulo Leminski


Olhe a poça
Ricardo Pontes

Há quem olhe a poça e veja a lua
Numa noite de intenso tremedal
Nela viaja a sede acre, insaciável
Do homem que trabalha, mas não vive
Daquele que não sabe já quem é
A sede é de tudo e de justiça
E o sedento não vê flores no caminho
A não ser nos canteiros do futuro


Mas como o advir não lhe pertence
Sendo a certeza um fruto de amanhã


Pisar na poça talvez não lhe pareça
Senão mero obstáculo a vencer
Um passo a mais do corpo que carrega


E enquanto a vida for seus dias de alugado
O seu suor, o seu sangue, o excremento
Para ele todo o céu será cinzento
Ter nascido foi ganhar uma sentença


Vai o homem, pisa a poça na calçada
E há quem olhe a mesma poça e veja a lua.




Splash

Ednei Pereira Rodrigues


Uma poção mescla-se com a poça

Equinos alteram o Equinócio

A ferradura brita a pedra

Quebra o manipanço da Górgone

Quero seu manilúvio

Uma cenoura no cenotáfio cenoso para o láparo

Roer o erro

Equívoco do oco

Equivalente ao equóreo

Oceano de Engano

Um esqualo esquálido

Taboca dessa Tabidez

Outro Chape e eu feneço

Uliginoso Ulo

Pororoca Recíproca

Articulação com o Ártico

Ósculo ocluso

Ombro feito de umbra.



O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do oco e do incerto de tudo.
 Fernando Pessoa


Glossário:
manipanço:feitiço
manilúvio:banho de mãos
cenotáfio:Monumento funerário erigido em memória de um morto, mas que não lhe encerra o corpo.

láparo :coelho
equóreo:relativo ao mar
taboca:engano
tabidez:podre
chape:pancada na água 
uliginoso:molhado
umbra:barro

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