terça-feira, 28 de maio de 2013

Silêncio


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago



Aceno Ácido 


Embatucado com o embaçado
Para embair o meneio
Receio de mengar
No embalo do estalo
O embaraço do gesto
Em gesso espesso
Níveo nivelável
Para aferir sem ferir
Pôr em paralelo
Um castelo no cotovelo
Quando o avesso é egrégrio
Faltou um aceno para o acéfalo
Mãos que vêem
Na palma a alma
Dedo macio saiu pela tangente
Tudo que abrange
Quando range a falange
A polidez do pólice
Durma com a mudra.

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