Não direi:
Que o
silêncio me sufoca e amordaça.
Calado
estou, calado ficarei,
Pois que a
língua que falo é de outra raça.
Palavras
consumidas se acumulam,
Se represam,
cisterna de águas mortas,
Ácidas
mágoas em limos transformadas,
Vaza de
fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem
sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que
não digam quanto sei
Neste retiro
em que me não conhecem.
Nem só lodos
se arrastam, nem só lamas,
Nem só
animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos
frutos em cachos se entrelaçam
No negro
poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente
recolhido e mudo,
Que quem se
cala quando me calei
Não poderá
morrer sem dizer tudo.
José
Saramago
Aceno Ácido
Embatucado com
o embaçado
Para embair
o meneio
Receio de
mengar
No embalo do
estalo
O embaraço
do gesto
Em gesso espesso
Níveo
nivelável
Para aferir
sem ferir
Pôr em
paralelo
Um castelo
no cotovelo
Quando o
avesso é egrégrio
Faltou um
aceno para o acéfalo
Mãos que
vêem
Na palma a
alma
Dedo macio
saiu pela tangente
Tudo que
abrange
Quando range
a falange
A polidez do
pólice
Durma com a mudra.