sábado, 25 de setembro de 2010

Augusto dos Anjos



Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!



Adoxografia

elogio de pessoas ou coisas que não o merecem


Estrábico não vês que é estranho
O estanho como substância adstringente
Admirável adipocera
Adjacente ao adro
Sua adipose
Só tem pose
Posses possíveis
Estrebucha o bucho no estreito
Mais um quimera em meu quintal
Mera coincidência
Mira coníferas
Análagos cones
Sem adrego
Isto está em persistir em desânimo
Fiz apartes para o apático
Fiz aquilo adrede
Premeditação como prêmio
Para o prelúdio da preguiça
E o prélio?
Armistício para o místico
Seu truísmo
Minhas petas em pétalas
Mais um petardo que estruge.

sábado, 11 de setembro de 2010

Doação de Órgãos



Resquícios de mim

À noite não havia mais resquícios do óbito
Tinha o sangue meticulosamente sido diluído em água
E no ambiente pairava aquele silêncio que recua
De quem não queria falar no delito
Ou suicídio?
Tudo corria normalmente
Do ferimento escorria o sangue afluente
Agora arredio
O suor inútil do cabelo rente
Como se nada tivesse acontecido adjacente
Como o que aconteceu no meio-fio
Fosse pura casualidade
Encontrá-lo aqui
Quando meu cadáver obstrui
A passagem da padaria de um homem de meia-idade
Para um lupanar
De uma linda gazela
Que olha para mim com cautela
E começa a rezar
Pronto para a autópsia sem demora
Meu fígado vai para aquela velha gorda que sempre vestia vermelho
Não teria ela um espelho?
Ela parece ser a cúmplice de todos os assassinatos quando cora
Onde está meu rim?
Naquele bêbado que não consegue nem chegar em casa
Pensa que e fênix sem asa
Quando dorme fumando seu cigarro
Sempre acordava com a camisa pegando fogo
O que meu estõmago faz neste manequim escaleto com bulimia?
Adiposa vai ser despedida do seu emprego de anorexia
Quando demagogo rogo
Desculpas aos meus intestinos
Por estarem em uma meretriz com hemorróidas
Que às escondidas
Tenta disfarçar seus defeitos
Ditoso remate para meu coração
Lateja no peito do meu ardor
Poetisa sem noção
Agora ela vai aprender a estimar
Meus sentimentos e alentos
Sem ressentimentos.