quinta-feira, 31 de março de 2022

Mais do Mesmo

 



Detector de detalhes

Ah ,o intangível
Sempre de cabeça para baixo
Vontade de ser morcego
Tugúrio para a taquaré
Talvez a única preocupada com minha saúde
Com o meu pulmão
E melhor tomares algo para a tosse
Nunca vamos sair para correr no parque
Quando eu pito
Sua bátega artificial
Um termo pitoresco que jamais seria usado por nenhum dos envolvidos
Sua tredice com o lustre
Perfídia sem perfil
Em meio à bruma, os contornos de seu rosto lentamente se tornaram fluidos e indefinidos
Eu não faço a neblina, eu lido com ela
Amásia da apostásia
Concubina da concretude.

                             EPR

***Poesia escrita após a leitura do livro Retratos com erro do Eucanaã Ferraz

quinta-feira, 24 de março de 2022

Anagramas do ínfimo

 


Desgraça

Vim ao mundo para escrever sobre o rapaz
que se apaixonou pelo detector de fumaça no quarto de hotel.

Ele vai cruzar no corredor com a rapariga
que se apaixonou pelo aparelho de ar condicionado.

Descerão no mesmo elevador evitando o olhar no espelho um do outro.
No saguão formidável o faraó é escoltado por trezentos em fila perfeita como soldados dourados advogados

enquanto batons retocam secretárias no vidro fumê e de repente o elevador se abre o rapaz vai na direção do balcão a garota parece que vai sair ela vai pedir um táxi

não sei o que fazer com eles mas corro na direção do rapaz que nesse momento socorre a poltrona de veludo nitidamente bêbada que tropeçou na sua frente quando ele marchava rumo ao oriente.

Ainda posso ver a jovem que se apaixonou pelo aparelho de ar condicionado entrar no carro de mãos dadas com um helicóptero.
A essa altura da tragédia resolvo por instinto salvar algumas frases da culpa primordial que nos lançou nesta piada hostil e indiferente
mas logo o coro de arrumadeiras intervém:

“Existir não será uma história contada por um idiota
é antes um castigo do qual a morte
precoce há de ser a única libertação razoável”

De dentro da piscina vazia minha voz revida:
“Chega de ações! Precisamos de palavras!”


Eucanaã Ferraz
                                

Objeto Abjeto


Foi quase um beijo
Labro no volutabro
Muxoxo inortodoxo
Veemente
Os puritanos instalaram um veeme
Tirar o verme
Não justifica o arrojo
Hausto acausto
A nematoda foi expulsa de seu hostau
Impudico na impueira
Improcedente impugnação
Sem se preocupar com o dartro
A ausência de darto
Falta de vesícula biliar
Não vai ilibar da curra
Talvez o crurifrágio como presságio
Frágil adágio.


***poesia escrita após a leitura do livro Retratos com erro do Eucanaã Ferraz

sexta-feira, 18 de março de 2022

Realismo Superado

 



Semiótica abiótica


Vanescer a virtude
Verte a vesânia
Vessar vestígios
Veste vísceras

Vexam o valetudinário
Viçar vicissitudes
Vigorar o vigorite
Vil vindiço

Violam o virente
Visar a visagem
Vitimar a vivacidade
O vivicombúrio

Vocabular o volúvel
Vossa voracidade vultosa
Vai vaporizar o vângor
Vapular a valsa.
                 

                                    EPR

sábado, 5 de março de 2022

Descrição de imagem

 

    imagem:fotografia de Valeria Simões

Nefelíbata


Marulho contra o capulho
Produz o gossipol
A origem de tanta aforia
Precisava de um aforismo
Aformosear o afrodo
Antes tudo era afrodisíaco
As Nereidas vestem nerinda
Para não serem censuradas
Permeio o Empíreo
Páralo no Páramo
Aramo pousa no mastro
Sob não é mais o contrário de sobre
Confunde o piloto
Deixa tudo híbrido
Talvez submarino
Salvou o pássaro de sua turbina
Pesadume para o cardume
O timoneiro alado contra a timopatia
Enverga a genoa
Para tentar decifrar o genoma da metáfora
Fica atento à direção dos ventos
O proeiro conseguiu a proeza
O equilíbrio na vertigem
Nau sem rumo
O que vem depois e a náusea.

                                             EPR