Desgraça
Vim ao mundo para escrever sobre o rapaz
que se apaixonou pelo detector de fumaça no quarto de hotel.
Ele vai cruzar no corredor com a rapariga
que se apaixonou pelo aparelho de ar condicionado.
Descerão no mesmo elevador evitando o olhar no espelho um do outro.
No saguão formidável o faraó é escoltado por trezentos em fila perfeita como soldados dourados advogados
enquanto batons retocam secretárias no vidro fumê e de repente o elevador se abre o rapaz vai na direção do balcão a garota parece que vai sair ela vai pedir um táxi
não sei o que fazer com eles mas corro na direção do rapaz que nesse momento socorre a poltrona de veludo nitidamente bêbada que tropeçou na sua frente quando ele marchava rumo ao oriente.
Ainda posso ver a jovem que se apaixonou pelo aparelho de ar condicionado entrar no carro de mãos dadas com um helicóptero.
A essa altura da tragédia resolvo por instinto salvar algumas frases da culpa primordial que nos lançou nesta piada hostil e indiferente
mas logo o coro de arrumadeiras intervém:
“Existir não será uma história contada por um idiota
é antes um castigo do qual a morte
precoce há de ser a única libertação razoável”
De dentro da piscina vazia minha voz revida:
“Chega de ações! Precisamos de palavras!”
Eucanaã Ferraz
Objeto Abjeto
Foi quase um beijo
Labro no volutabro
Muxoxo inortodoxo
Veemente
Os puritanos instalaram um veeme
Tirar o verme
Não justifica o arrojo
Hausto acausto
A nematoda foi expulsa de seu hostau
Impudico na impueira
Improcedente impugnação
Sem se preocupar com o dartro
A ausência de darto
Falta de vesícula biliar
Não vai ilibar da curra
Talvez o crurifrágio como presságio
Frágil adágio.
***poesia escrita após a leitura do livro Retratos com erro do Eucanaã Ferraz