quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Ruínas do que eu penso

 


Monília na Mobília 

Alguns não querem o conforto 
O sofá não aguentou os sofismas 
A sofisticação dos dias 
Buscava a simplicidade de um olhar 
Tentaram estofar a poesia com metáforas 
A espuma era do Mar 
Não era retrátil 
Sua maciez vinha de um tacuru 
Térmites queriam o término 
Ofereci demerara 
Em troca de mais uma estrofe 
Permuta para o demasiado 
Escambo para o excessivo 
Barganha para o exorbitante 
Chega disso 
Elas tinham razão 
Seria melhor ter terminado na primeira estrofe 
Basta do que crasta. 

                          Ednei Pereira Rodrigues

***tacuru:Montículo de terra fofa, feito pelas térmites, de preferência em lugares úmidos ou alagadiços, chegando por vezes a atingir mais de um metro de altura.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Realismo Superado

 

Trair a solidão

Precipitei e fui ao seu encontro
Vi que já tinha formado família
União estável com um pacóvio
2 filhos e um caniche
Descendente da vertente
Parente para pentear
Aparente tudo parece estar bem
Fazem as refeições juntos
Mas o apego ao refego era seu desassossego
Desatinos Desativados
Deixou tudo em stand-by
Vou deixar de ser seu stalker
Não podia perder o statu quo de insânia
Ela trocou a sandice por um sanduíche
Por um quarto com beliche
Por um trepiche
Boliche nos finais de semana
Não fuma mais um haxixe
E se olvidou de mim. 

                             Ednei Pereira Rodrigues

sábado, 9 de janeiro de 2021

Anagramas frugais



AS PALAVRAS

Adiro a uma nova terra adiro a um novo corpo
As palavras identificam-se com o asfalto negro
o tropel das nuvens
a espessura azul das árvores acesas pelos faróis
o rumor verde
As palavras saem de um ferida exangue
de teclas de metal fresco
de caminhos e sombras
da vertigem de ser só um deserto
de armas de gume branco
Há palavras carregadas de noite e de ombros surdos
e há palavras como giestas vivas
Matrizes primordiais matéria habitada
forma indizível num retângulo de argila
quem alimenta este silêncio senão o gosto de
colocar pedra sobre pedra até á oblíqua exatidão?
As palavras vêm de lugares fragmentários
de uma disseminação de iniciais
de magmas respirados
de odor de gérmen de olhos
As palavras podem formar uma escrita nativa
de corpos claros
Que são as palavras?Imprecisas armas
em praias concêntricas
torres de sílex e de cal
aves insólitas
As palavras são travessias brancas faces
giratórias
elas permitem a ascensão das formas
elevam-se estrato após estrato
ou voam em diagonal
até à cúpula diáfana
As palavras são por vezes um clarão no dia calcinado
Que enfrentam as palavras?O espelho
da noite a sua impossível
elipse
Saem da noite despedaçadas feridas
e são signos do acaso pedras de sol e sal
a da sua língua nascem estrelas trituradas.

António Ramos Rosa

de Gravitações(1984)


A sombra da árvore na parede do quarto


Galhos adentro

A metáfora vai aprender a fazer a fotossíntese

Terei frutos na jaça?

Pilé na pildra

Tomara que não seja jaca

Talvez Ababone

Abone devaneios incautos

Amotar o âmbito

Orgulho desse cadabulho

Bito na inópia

Pinoia de um ramerrame

Ramos do Pinoguaçu

Eu lia António Ramos Rosa

O livro fez de minhas mãos um pedestal

Púlpito pulsante

Supedâneo percutâneo

Eu era a inércia

A cadência do cadáver.


                    Ednei Pereira Rodrigues